“Esse é o governo que tem medo do povo, precisamos de mobilização”, aponta Silvio Caccia Bava

Essa foi uma das avaliações do último Café e Política, realizado no dia 21 de outubro

Foto: Adriana Medeiros

 

Frente aos golpes em governos democráticos em toda América Latina e o cenário de perdas de direitos e reformas no mundo do trabalho, a aposta dos movimentos é a unidade e a mobilização nas ruas. Essa foi uma das avaliações do último Café e Política, no dia 21 de outubro. O tema do debate foi “A Geopolítica do Golpe”.

O governo ilegítimo de Michel Temer já revelou para o que veio: pretende aprofundar o corte de gastos na conta dos trabalhadores. Sinalizou a PEC 241, que propõe o congelamento dos investimentos sociais por 20 anos e a reforma da previdência. “A disputa pelo presente nós perdemos e temos que saber ainda que derrota foi esta. O presente não está garantido para a maior parte do povo brasileiro, mas nós queremos garantir o futuro. Por isso, nossa utopia não pode ser só a democracia, senão estaríamos voltando para o período do final da ditadura”, pontuou durante o debate, Carlos Jardel de Souza Leal, ex Técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – DIEESE.

Ainda assim, a criação de uma frente de esquerda, que seja capaz de agir de forma articulada contra as investidas do governo, é um desafio. Para o presidente estadual do PCdoB Rio, João Batista Lemos, o panorama das eleições municipais não são otimistas. A falta de inserção da classe trabalhadora nas eleições, com o aumento dos votos nulos e brancos, demonstra a falta de capacidade de aglutinar projetos coletivos que deem resposta ao cenário atual. “É preciso unir os debaixo para dividir os de cima”, acrescentou Lemos.

A conjuntura de cortes em áreas sociais, no entanto, não é isoladamente nacional. O Diretor e editor-chefe do Le Monde Diplomatique Brasil, Silvio Caccia Bava, convidado para o debate, analisou a influência do capital financeiro na geopolítica mundial. “O mundo hoje é governado pelos grandes conglomerados financeiros. No Brasil, desde a aprovação do financiamento privado de campanha, a política brasileira virou um balcão de negócio das grandes empresas. Em 1998, 70% dos R$10 bilhões arrecados nas eleições foram financiados por grandes empresas”,justificou Silvio.

Um dos setores que mais se modificarão é o mundo do trabalho. O novo governo do PMDB já tem medidas de mudanças na Consolidação das Leis Trabalhistas. Já em curso no parlamento estão a reforma previdenciária com aposentadoria entre homens e mulheres aos 65 anos e a ampliação dos serviços de terceirização para atividades-fim, aumentando a possibilidade de flexibilização e instabilidade. O jornalista Miguel do Rosário, autor do blog O Cafezinho, comentou durante o debate sobre o “Projeto Crescer” de Michel Temer. O objetivo é estabelecer metas de venda de muitas empresas estatais ao longo de 2017. “O avanço do capital sobre a democracia será rápido e perverso”, afirma o jornalista.

Frente aos desafios da conjuntura, a necessidade de aglutinar os trabalhadores nas lutas e da unidade para uma frente de esquerda foram alguns dos apontamentos para o debate.  “Precisamos saber quem é o inimigo e apontar para ele. Para isso, são necessário dois faróis de atenção: democracia e soberania nacional”, respondeu a economista, Ceci Vieira Juruá. Para Silvio, é necessário que a esquerda faça auto-crítica dos processos e que “é preciso casar a oposição analítica a esse governo autoritário com um projeto de enfrentamento que dê conta de uma nova utopia”, finalizou o editor do Le Monde.

Membro da coordenação nacional do MST, Joaquin Piñero, também foi categórico: “A disputa por matéria prima nos coloca no centro dos interesses mundiais. As análises que focarem apenas na questão eleitoral não vão olhar para o que precisamos apontar. Para o capitalismo se superdesenvolver hoje, ele precisa de uma nova revolução tecnológica que vai esmigalhar os postos de trabalho. Não podemos abaixar a cabeça e reforçar a volta liberalismo com Temer. Precisamos garantir unidade de trabalhadores nas ruas”, concluiu.

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