A engenharia fluminense acompanha de perto o projeto da EF-118. A ferrovia Vitória-Rio tem potencial para se tornar, em um futuro próximo, um importante vetor de desenvolvimento regional, gerando empregos, fortalecendo cadeias produtivas locais nos 24 municípios atravessados pela linha e atraindo investimentos estratégicos. A ideia é criar um corredor logístico que ajude a escoar as matérias primas e produtos minerais e agrícolas produzidos pela indústria sudestina.
Dada a relevância do projeto, as informações apresentadas na audiência pública do último dia 31 de janeiro acenderam um alerta entre as entidades das engenharias no estado do Rio: a apresentação da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) apontou a priorização na destinação dos recursos do PAC para as obras do trecho central da ferrovia, deixando para o futuro os trechos norte e sul.
O trecho priorizado para licitação e recebimento dos aportes da União visando atrair investimentos privados para a implementação da ferrovia tem 170 quilômetros e liga São João da Barra, no Rio de Janeiro, a Anchieta, no Espírito Santo. Mas o motivo da prioridade fica no meio do caminho: é no trecho central do projeto que a linha atravessa o Porto do Açu, no Norte Fluminense.
Pela execução do trecho sul
Se o Brasil, como faz a China, planejasse sua infraestrutura estratégica para execução contínua ao longo de décadas, mantendo o compromisso com a conclusão dos projetos de Estado, a preocupação seria menor. Mas a realidade é que, ainda que os resultados da pesquisa Quaest da última semana sejam positivos para a perspectiva da continuação do atual projeto de governo após as próximas eleições, 2026 ainda é uma incógnita.
Se apenas o trecho central do projeto da estrada de ferro 118 for construído, é possível que se repita um padrão já visto no Brasil: mudanças de governo ou o arrefecimento de medidas macroeconômicas de controle fiscal já paralisaram obras estratégicas no passado. O histórico nacional mostra que a licitação fatiada por trechos pode condenar parte de um projeto com enorme potencial social e industrial a jamais sair completamente do papel.
O Clube de Engenharia alerta para os riscos dessa abordagem na convocação feita ao Senge RJ e às demais entidades das engenharias do estado. O presidente Francis Bogossian adverte: “A licitação desta forma, muito provavelmente, deixará o trecho sul prejudicado, com sua execução a ser realizada em um futuro remoto”.
O documento destaca, ainda, que “os recursos da União, do PAC, irão servir apenas ao segmento exportador de minério de ferro, não atendendo às demandas do Rio de Janeiro. Se assim for feito, somente com a implantação do trecho norte, será um afastamento brutal dos objetivos conceituais da própria conceção do porto do açu, solapando eventuais potenciais para a integração econômica fluminense”.
O texto conclama a ANTT, o Ministério dos Transportes e o governo federal a adotar uma visão de longo prazo que contemple o estado do Rio como um todo. Além da licitação e implementação imediata dos 325 quilômetros do trecho sul, o documento também defende a inclusão do transporte de passageiros em toda a ferrovia. “O momento é de união e ação para que a EF-118 se torne um legado de progresso e inclusão para as futuras gerações”, finaliza a carta-convocação.
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Texto: Rodrigo Mariano/Senge RJ | Foto: Reprodução Clube de Engenharia