Fisenge faz homenagem a engenheiras pioneiras

Campanha do Coletivo de Mulheres da Fisenge marca o Dia Nacional da Mulher (30/4)

Fonte: Fisenge

 

Em homenagem ao Dia Nacional da Mulher (30/4), o Coletivo de Mulheres da Fisenge lançou nas redes sociais a campanha “Coisa de Engenheira”, que busca resgatar a história de três profissionais pioneiras na Engenharia Nacional. Historicamente, esta é uma área de maioria masculina, por isso contar as trajetórias de resistência das mulheres é tão importante. “Este cenário é fruto de uma sociedade patriarcal, que reforça padrões. Tudo começa na escola, como se a menina não fosse capaz de fazer cálculo e gerir processos”, avalia a Diretora da Mulher da Fisenge, a engenheira química Simone Baía. “Hoje, no entanto, temos observado o aumento de mulheres nos cursos de engenharia e, pouco a pouco, da participação delas no mercado de trabalho”, comemora. Entre milhares de engenheiras brasileiras, foram retratadas, por sua história e contribuição à profissão e ao país, as seguintes personalidades: Enedina Alves Marques; Aïda Espinola e Ana Primavesi. “Engenharia é coisa de mulher também e queremos com essa campanha homenagear o conjunto de mulheres que se dedicam todos os dias à ciência e à tecnologia”, concluiu Simone. As ilustrações são de Raquel Vitorelo, autora da campanha “Coisa de Mulher”. As ilustrações são de Raquel Vitorelo, autora da campanha “Coisa de Mulher”.

 

Perfis

Enedina Alves Marques (1913-1981) foi a primeira engenheira negra do Brasil, e a primeira engenheira do Paraná. Filha de uma lavadeira, teve os primeiros estudos pagos pelo patrão da mãe, que queria uma companhia para a filha, da mesma idade de Enedina. As duas, professoras, trabalhariam juntas no interior do Paraná. Forma-se em Engenharia Civil pela UFPR em 1945, e lá possivelmente enfrentou episódios de racismo. Em 1947 é admitida no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica do Paraná, trabalhando no plano hidrelétrico de aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu. Baixinha, magra e vaidosa, era preciso ser durona para frequentar um ambiente cercado de machismo. Enedina visitava a barragem da Usina Capivari-Cachoeira de macacão surrado e arma na cintura, mandando tiros para o alto para ser respeitada. Conseguiu. Pelos esforços na implantação da usina, a maior hidrelétrica subterrânea do sul do país, recebeu honras do Governador Ney Braga, que lhe permitiram viver uma vida confortável e de muitas viagens. Morreu de ataque cardíaco em 1981, aos 68 anos, sozinha em seu apartamento. Fotos de seu corpo estamparam as páginas de um tabloide da época, causando a revolta dos membros do Instituto de Engenharia do Paraná. Após o caso, vários artigos ressaltando sua importância para a Engenharia Nacional foram publicados pela imprensa. Em 2006, é fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá. Em 2014, sua história é tema de uma monografia na UFPR. Mais recentemente, foi descoberta por diversos movimentos negros, que evidenciaram em sua trajetória exemplo de resistência ao racismo e machismo de sua época.

 

 

Aïda Espinola (1920-2015) é considerada uma das pioneiras na Química brasileira, precursora nos estudos de rochas dos reservatórios de petróleo, que mais tarde serviriam de base para as análises da camada pré-sal. Formou-se em Química Industrial em 1941 e Engenheira Química em 1954, na UFRJ (então Universidade do Brasil). Iniciou sua carreira profissional como Química Tecnologista do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Lá, foi responsável por implementar e chefiar o laboratório que foi, durante anos, o único no Brasil a realizar análises químicas completas de rochas, atendendo a pesquisadores brasileiros e estrangeiros. Teve uma ampla carreira como pesquisadora, com mestrado, doutorado e pós-doutorado no exterior. Foi docente titular na UFRJ e professora visitante na UFBA, UFPE e Florida Atlantic University (EUA). Em 2013, aos 93 anos, lançou o livro intitulado “Ouro Negro”, o qual conta a história do petróleo no Brasil, desde a descoberta em 1939 do poço de Lobato, na Bahia, até os campos do pré-sal. Para escrevê-lo, recuperou parte da pesquisa realizada no Laboratório de Análises Químicas de Rochas, no início de sua carreira. Faleceu em 2015, aos 95 anos.

 

Ana Maria Primavesi nasceu no ano de 1920, em St Georgen ob Judenberg (Áustria). Chegou ao Brasil aos 29 anos, e em terra brasileiras naturalizou-se. Ana é engenheira agrônoma, graduada em agronomia pela Universidade Rural de Viena, e uma das principais pesquisadoras de agroecologia e agricultura orgânica. “Solo é vida e é a base da vida. Há muita vida nele e muita dependência dele”, afirma Ana Primavesi. Em 2012, ela recebeu o prêmio mundial da agricultura orgânica pela Internacional Federation of Organic Agriculture Movements (IFOAM), além de receber o título de Doctor Honoris em diversas universidades brasileiras. Como professora da Universidade Federal de Santa Maria (RS), contribuiu para a organização do primeiro curso de pós-graduação voltado para a agricultura orgânica. Seu livro “Manejo ecológico do solo: a agricultura em regiões tropicais” é considerado uma obra de referência nas ciências agrárias.

 

Com informações de Gazeta do Povo, Instituto de Química da UFRJ e Teia Orgânica

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