Quando Isis Anchalee foi convidada por seu empregador, a empresa de tecnologia OneLogin, para participar de uma campanha pública de recrutamento, ela não se empenhou para “cuidar do visual”.
“No dia (das fotos promocionais), eu estava usando um mínimo de maquiagem. E nem escovei o cabelo”, conta.
“A empresa apenas tinha me pedido uma foto do meu rosto, que seria usada junto com um depoimento sobre minha experiência de trabalho.”
No entanto, a imagem causou furor nas redes sociais quando apareceu em pôsteres colocados em estações do Bart, o sistema de metrô da cidade de San Francisco (EUA).
Muitas pessoas questionaram se Anchalee era “realmente engenheira”.
“Havia dois outros cartazes com colegas, ambos masculinos. Um deles usa um chapelão preto e uma camisa que dizia ‘hacker'”, conta a engenheira.
“Achei que aquela imagem era controversa, mas a minha é que pareceu incomodar as pessoas.”
Incomodada, Anchalee escreveu um post em seu blog para falar sobre a experiência e criou a hashtag #ilooklikeanengineer (“eu pareço uma engenheira”), convidando outras colegas para divulgar suas imagens no Twitter, segurando um cartaz com a frase.
“A ideia não era algo limitado apenas a mulheres. Acho que tem ressonância com qualquer pessoa do mundo que não se encaixa em estereótipos.”
Milhares de pessoas participaram da campanha, e profissionais de outras áreas, como medicina e ciência, encamparam a iniciativa.
Anchalee é um talento precoce na engenharia de softwares. Aprendeu a programar computadores com apenas oito anos de idade. Foi cedo também que percebeu o “problema” causado por sua escolha de carreira e sua aparência.
Um dia, quando entrou no elevador de seu prédio de apartamentos usando uma camisa promocional do site de compartilhamento de programas Github, ouviu de um vizinho que era “atraente demais para ser uma engenheira”.
Anchalee não viu elogio na frase. “Fiquei estupefata. Em um mundo ideal, não haveria motivo para que eu aparecesse demais como engenheira.”
“Cheguei onde estou trabalhando pesado. E me sinto bem com isso”, completa a engenheira.
De acordo com estudos acadêmicos nos EUA, apenas 15% dos empregos nas grandes empresas da área de tecnologia nos EUA são ocupados por mulheres. E diversas companhias, como a Apple e o Google, já admitiram publicamente que “precisam melhorar” suas políticas de recrutamento tanto em relação à mulheres quanto minorias.
A campanha de Anchalee evoluiu para uma iniciativa publicitária, recebendo fundos por doações de usuários na internet e mesmo de outras empresas. E se tornou mais uma iniciativa ligada ao Dia de Ada Lovelace – uma celebração a mulheres trabalhando nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (Stem, na sigla em inglês), historicamente dominadas por homens.
Comemorado pelo sexto ano em 2015, o dia é uma homenagem à mulher considerada uma pioneira na área. Lovelace, matemática, foi assistente do inventor Charles Babbage, que em 1850 idealizou o que ficou conhecido como o primeiro computador programável da história – embora ele nunca tenha saído do papel. Ela criou o que se pode chamar de primeiro algoritmo.
Este ano também marca o 200º aniversário de nascimento da britânica, que foi filha do conhecido poeta Lord Byron.