Por Instituto Telecom
Jack Dayton é um empresário ganancioso, que só pensa nos lucros, com a imposição de suas regras de mercado, ou seja, de exploração empresarial. Ele é dono de uma máquina/robô 2.0 dentro de um hospital da série Chicago Med. Uma máquina avançada de cirurgia. Ela funciona a partir do fornecimento/alimentação de dados, atualizados à medida que as cirurgias ocorrem. Essa máquina vai guiar uma operação realizada por um excelente cirurgião. O paciente morre. O médico, que no primeiro momento é culpabilizado pelo empresário, conclui que a máquina falhou no meio do procedimento. Um exemplo catastrófico de utilização da inteligência artificial (IA).
Essa história pode nos ajudar no entendimento de que quais são os riscos envolvidos na utilização da IA quando deixada apenas ligada aos interesses do empresariado. A IA não é apenas um avanço tecnológico.
José Catalano, doutorando em Economia pela Universidade Estadual Paulista, na publicação Estudos Sociopolíticos da Inteligência Artificial escreveu um texto intitulado “Trajetória da Inteligência Artificial: uma análise panorâmica de 1943 a 2023”.
No texto, Catalano destaca:
1) IA é uma construção social complexa – “uma construção social intrincada e entrelaçada com os contextos humanos. Ao longo das décadas, o desenvolvimento da inteligência artificial não foi simplesmente impulsionado por avanços técnicos, mas também foi moldado por uma série de interações sociais, culturais, políticas e éticas que desempenharam papéis fundamentais em sua evolução”.
2) IA não é apenas uma tecnologia – “A compreensão dessas interações é crucial para desvelar como a IA não é apenas uma ferramenta tecnológica, mas um reflexo e uma extensão das dinâmicas sociais mais amplas. A ética envolvida na criação de algoritmos, as decisões sobre quais problemas a IA deve abordar e os impactos socioeconômicos de sua implementação são todos moldados por escolhas humanas, políticas e culturais”.
3) Os vários valores e forças envolvidos – O texto busca “iluminar como as decisões humanas, valores culturais e forças sociais influenciaram o curso da IA ao longo do tempo”.
4) Redução dos impactos negativos da IA -“Ao reconhecer a IA como uma construção social, abre-se espaço para uma reflexão crítica sobre o papel da sociedade na definição do futuro dessa tecnologia e na mitigação de seus impactos potencialmente prejudiciais”.
Por sua vez, a Coalizão Direitos na Rede observa que “é essencial que os sistemas de inteligência artificial sejam regulados para promover uma IA responsável, que proteja direitos e reduza riscos à sociedade e a grupos sociais que enfrentam desigualdade, discriminação e exclusão. (…) O PL 2338/23 traz dispositivos muito importantes que nos colocam em diálogo internacional do ponto de vista regulatório e tecnológico”.
A Inteligência Artificial (IA) já está sendo criada e recriada desde a década de 1950. Mas o nível de complexidade a que chegamos hoje exige que a sociedade civil não deixe esse debate apenas nas mãos do grande empresariado.
Temos que potencializar a utilização da IA para reduzir as desigualdades sociais e não ser apenas um elemento de aumento da produtividade, do lucro e da ganância das grandes plataformas.
Sem regulação pública, o controle de todo o potencial da IA permanecerá dominado pelas big techs, os Jacks Dayton da vida real.
Instituto Telecom, Terça-feira, 15 de abril de 2025
Marcello Miranda, Especialista em Telecom