Inteligência Artificial (IA) como um serviço público de cidadania

Trata-se, sem dúvida, de um tema bastante complexo. Mas temos que nos aproximar e nos apropriarmos dele. A inteligência artificial não pode servir para aprofundar a exploração dos trabalhadores e a acumulação do capital.

*Por Instituto Telecom

“A Inteligência Artificial é inteligente? As máquinas que ‘falam’ como um humano, estão vivas e conscientes? Podemos dizer que possuem anima, do latim sopro, o princípio da vida, a ‘alma’? Até onde o ser humano pode ser substituído por processos automatizados?”

Esses questionamentos são algumas das reflexões propostas pelo grupo de estudiosos Deivison Faustino, doutor em Sociologia; Helen Sousa, mestranda em Serviço Social e Políticas Sociais e Walter Lippold, doutor em História, no artigo “Inteligência Artificial e precarização do trabalho: colonialismo digital e acumulação primitiva de dados”, que faz parte da publicação “Estudos Sociopolíticos da Inteligência Artificial”.

As perguntas acima refletem as implicações para o capital e o trabalho com a IA. E ainda há outras, como:
. Até que ponto e em relação ao quê a automação é autônoma? Quais as implicações sociais e econômicas dessa substituição não apenas para o trabalho, mas para o próprio capital?”

Os autores também abordam questões sobre:
1) O receio da dominação – “O vertiginoso desenvolvimento tecnológico suscita fascínio e, ao mesmo tempo, reaviva um medo que ronda o ser humano, desde a criação de suas primeiras ferramentas e máquinas: o receio de que nossa criação nos domine”.

2) A emergência de novas perguntas – “Desde que o humano é humano, a descoberta de novas técnicas implica em alterações significativas em nossa sociabilidade, subjetividade, habilidades e sensibilidade: do machado de mão (…) às inteligências artificiais generativas (…) observa-se não apenas a criação de novas respostas às velhas perguntas mas, sobretudo, a emergência de novas perguntas”.

3) Novos patamares da exploração – “Com a emergência das tecnologias digitais a exploração do trabalho atingiu novos patamares, o que nos provoca a pensar se as mudanças em curso são de natureza quantitativa – intensidade e velocidade – ou qualitativa, a ponto de alterar ou até superar a lógica da ‘velha’ exploração capitalista”.

4) Novas formas de exploração – “O advento do big data e a aplicação do conjunto de técnicas conhecidas como inteligência artificial parecem oferecer novas possibilidades de apropriação, expropriação e exploração do conhecimento antes intocadas pelo capital”.

Trata-se, sem dúvida, de um tema bastante complexo. Mas temos que nos aproximar e nos apropriarmos dele. A inteligência artificial não pode servir para aprofundar a exploração dos trabalhadores e a acumulação do capital. A IA tem que ser um instrumento para a democratização econômica, política, social, racial, tecnológica.

Como alerta o economista Luiz Martins de Melo, “a democracia pode estar em grande perigo se a infraestrutura digital não for tratada politicamente como um serviço público de cidadania”.

 

Instituto Telecom, Terça-feira, 3 de junho de 2025
Marcello Miranda, especialista em Telecom

 

Fonte: Instituto Telecom | Foto: Canva

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