Instituto Telecom*
A farsa. A Oi faz parte do grupo que, em 29 de julho de 1998, no processo de privatização do Sistema Telebras, foi montado para não ganhar a concessão. Apesar disso, acabou levando 16 estados da Federação com apenas 1% de ágio sobre o valor proposto para a venda das empresas de telecomunicações que compunham essa área. Os recursos vieram, em boa parte, dos cofres públicos.
A partir de então, a Oi tem sido tratada por seus acionistas de maneira meramente especulativa. Daí as aventuras. Em 2008 comprou a Brasil Telecom, apesar de não ter um centavo para investimentos mais arrojados. Em 2010, a fracassada parceria com a Portugal Telecom. Em 2015, por não ter dinheiro, ficou fora do leilão da frequência de 700 MHZ, comprada por outras grandes operadoras. Tudo isso levou a uma dívida de R$ 65 bilhões em 2016, quando entrou em recuperação judicial. A dívida de R$ 65 bi é fruto de uma gestão irresponsável.
Em 2018, houve a mágica – boa parte da dívida converteu-se em participação acionária de grandes grupos especuladores norte-americanos, os chamados fundos abutres. Uma tragédia.
Os fundos abutres (GoldenTree, York Global, Brokfield, Solus) transformaram a empresa num triste joguete. São especuladores norte-americanos especializados em comprar ativos de alto risco visando lucrativos retornos. É essa a perspectiva que dirige esse processo de venda de todos os principais ativos da Oi. Preocupação com a concentração do mercado, a qualidade e os trabalhadores do grupo Oi/Serede não existem. Em 2019/20 a Oi demitiu cerca de 5 mil trabalhadores diretos e indiretos (Serede).
Esses grupos, que só têm interesse em recuperar o dinheiro deles, vêm vendendo de forma esfacelada a empresa. A Piemonte Holding adquiriu a unidade de data centers da Oi por R$ 325 milhões. A Highline comprou as torres da empresa pelo preço mínimo de R$ 1,076 bilhão.
A Oi móvel foi vendida para Claro, TIM e Vivo por R$ 16,5 bilhões, concentrando ainda mais a telefonia celular no Brasil. A venda da Oi móvel tornará a empresa menor. O móvel representou cerca de 45% da receita da Operadora no primeiro trimestre de 2020.
A Oi assinou um acordo de exclusividade com o BTG Pactual para a venda de até 51% da InfraCo (unidade de fibra ótica da Oi).
Mas tem pior.
A Oi não participará do leilão do 5G, essencial para o presente e o futuro de uma empresa de telecomunicações. Está claro que a Oi caminha para ser uma pequena empresa de telecomunicações. Sem celular, sem 5G.
Os donos da Oi conseguiram em 22 anos transformar uma das principais empresas do país em um produto secundário no mercado das telecomunicações. Ruim para a sociedade, ruim para os trabalhadores. Farsa e tragédia marcam essa triste história.
* Instituto Telecom – publicado em 23 de fevereiro de 2021