Instituto Telecom*
No filme Uma Linda Mulher, o personagem Edward, interpretado pelo ator Richard Gere, é um grande empresário de Nova York que compra empresas com problemas financeiros para dividi-las e vendê-las separadamente.
O filme é de 1990, mas a situação é bem atual. Pois é exatamente o que está ocorrendo com a Oi. Grupos de especuladores norte-americanos (GoldenTree, York Global, Brookfield, Solus) compraram a empresa e agora estão se preparando para vendê-la de forma esquartejada.
O próprio presidente da empresa, Rodrigo Abreu, testa-de-ferro desses grupos abutres, declarou que “três dos ativos já estão fechados, incluindo a parte da operação móvel”. A Oi móvel ficará com as três irmãs Vivo, Claro e TIM. Datacenters vão para a Piemount Holding e as torres ficarão com o fundo norte-americano Digital Colony.
E os trabalhadores da Oi? Em plena pandemia, o presidente abutre da empresa agradece o esforço de todos e informa que haverá 2 mil demissões. Duas mil famílias terão de conviver com o desemprego num momento crítico, num Brasil com 14 milhões de desempregados.
Os sindicatos e as federações dos trabalhadores ainda cobraram um pacote que reduzisse o estrago. A empresa foi muito inflexível e, apesar de todo esforço das entidades sindicais, o que foi conseguido está muito aquém das necessidades dessas milhares de famílias.
Isso tudo é decorrência do processo de privatização ocorrido em 1998, seguido de uma sequência de decisões que misturaram incompetência com ausência de espírito público – a Constituição Federal estabelece que as telecomunicações são concessões públicas. Alcançou seu ápice no dia 8 de setembro de 2020, quando foi aprovado, em Assembleia Geral de Credores, o aditamento do chamado Plano Estratégico de Transformação da Oi. Plano agora homologado pelo Juiz da Recuperação Judicial.
No filme, o megaempresário Edward muda de posição e se alia a outro empresário no sentido não de ganhar dinheiro destruindo empresas, mas as tornando mais fortes e produtivas. Nada leva a crer que isso acontecerá com a Oi.
É o triste fim de uma empresa estratégica. Fim das últimas possibilidades de se discutir seriamente as telecomunicações brasileiras enquanto alicerces para a inclusão digital e a redução das desigualdades sociais. Triste fim de milhares de postos de trabalho.
Mais uma vez, só quem ganha são os acionistas abutres da Oi. Onde está a Anatel? Onde está o governo federal?
* Publicado no portal do Instituto Telecom, em 13 de outubro de 2020