José Dirceu: ‘Precisamos de alianças ao centro para enfrentar a extrema direita’

Para o ex-ministro da Casa Civil, 'PT é um partido de esquerda, um partido socialista'

Em entrevista ao Brasil de FatoJosé Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, entre 2003 e 2005, falou sobre a atual conjuntura enfrentada pelo atual governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Nós precisamos de alianças ao centro para enfrentar a extrema direita, mas isso não significa que um partido como o PT tem que ser de centro. O PT é um partido de esquerda, um partido socialista”, afirmou Dirceu, que esteve em um ato da campanha de arrecadação de fundos para a manutenção Casa Carlos Marighella, localizada em Salvador (BA). O espaço sediará o Instituto Carlos Marighella e Clara Charf.

Para Dirceu, “Marighella é um exemplo” e sua experiência na resistência à ditadura militar (1964-1985) deve ser replicada pelas organizações de esquerda nesta quadra da história brasileira.

“Ele é um exemplo de que, primeiro, é preciso estudo. Segundo, é preciso saber mudar. Terceiro, que é preciso ler os exemplos da história. O Marighella é um exemplo de rebeldia, audácia e sonho”, sentencia Dirceu.

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Qual a importância do Marighella neste momento da história do país?

José Dirceu: O Marighella é um exemplo, inclusive de superação na vida, como ele nasceu. Vamos lembrar que o Marighella fazia provas em poesia, ele sempre foi um lutador, pelo socialismo e a democracia. Além disso, o Marighella sempre se importou com a formação daqueles que estavam com ele e foi mudando conforme o Brasil foi mudando, soube viver na clandestinidade, na prisão, e foi deputado, sabedor de que a luta institucional era importante. Depois, cassaram o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e ele foi para a clandestinidade. O Marighella tinha uma visão sobre o que estava acontecendo no Brasil e no mundo, ele previu o golpe e chamou a atenção do partido dele, de que era preciso mudar, mas o golpe veio. Quando foi preso, ele resistiu, foi muito torturado e saiu em liberdade, após uma campanha por sua liberdade. Então, ele volta à luta e forma a Ação Libertadora Nacional (ALN) e começa a resistência armada à ditadura. Ele é um exemplo de que, primeiro, é preciso estudo. Segundo, é preciso saber mudar. Terceiro, que é preciso ler os exemplos da história. O Marighella é um exemplo de rebeldia, audácia e sonho.

Brasil de Fato: Você tem alguma lembrança dele? Se conheceram?

Nos conhecemos e eu lembro perfeitamente. Eu fui no apartamento dele, clandestino, e ele expôs para nós os planos dele, a estratégia, para a coluna guerrilheira, a visão dele sobre o Brasil e a visão internacional, ele tinha ido à Cuba e muitos de nós passamos a participar da luta armada a partir dos treinamentos da ALN. Estive duas vezes com Marighella e tenho guardado na memória aquele homem fantástico.

Brasil de Fato: Você falou sobre mudanças. Que mudanças são necessárias na esquerda?

Primeiro, a esquerda precisa se unir, porque ela viu o que seria o golpe. Se iam assassinar o Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes, imagina o nível de repressão que seria. Segundo, ela tem que se fortalecer de novo no território e aprender a lidar com as redes e a cultura. Terceiro, precisa renovar a juventude. Quarto, ela não pode perder o rumo e a natureza, continuar sendo de esquerda, é mudar sem mudar de lado.

Brasil de Fato: É mudar sem ir ao centro?

Isso aí na verdade são duas discussões. Nós precisamos de alianças ao centro para enfrentar a extrema direita, mas isso não significa que um partido como o PT tem que ser de centro. O PT é um partido de esquerda, um partido socialista. A circunstância histórica que vivemos nos colocam tarefas históricas dentro do capitalismo, no combate à pobreza, pela reforma agrária, na defesa dos direitos trabalhistas, da educação e saúde públicas, enfim, precisamos saber lutar, mas sem perder a perspectiva da nossa natureza.

Fonte: Brasil de Fato | Texto: Monyse Ravena | Edição: Nathallia Fonseca | Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

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