Lula discursa na COP 28 em duro tom de cobrança a países ricos que investem em guerras, enquanto o mundo caminha para a catástrofe climática

Esperava-se um discurso sobre a união pela viabilidade da vida no planeta. Lula foi além: na abertura da Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas, a COP 28, em Dubai, Lula, acumulando a presidência do Brasil, do Mercosul e do G20, denunciou a morosidade de países ricos diante da urgência do colapso climático. Apontou, também, a incapacidade da ONU de manter a paz, o não cumprimento de acordos internacionais por parte de seus membros e os gastos exorbitantes em armamentos para a guerra.

Lula abriu o discurso destacando que “o mundo trava guerras, alimenta divisões e aprofunda a pobreza e desigualdades”. Também cobrou a implementação de NDCs (sigla em inglês para Contribuição Nacionalmente Determinada) pelos países mais ricos e ajustes necessários para que elas sejam suficientes para manter o aumento da temperatura do planeta em até 1,5 graus. O presidente voltou a afirmar que o Brasil tem como meta a redução de 48% das emissões de carbono até 2025 e 53% até 2030 e atingir a neutralidade climática até 2050. “Nossa NDC é mais ambiciosa que as de países que poluem a atmosfera desde a revolução industrial no século XIX”, destacou.

A incapacidade de países que ainda lutam contra a fome e a pobreza em contribuir no esforço global e a necessidade de equacionar a questão também teve destaque no discurso. “Muitos países do sul global não terão condições de implementar suas NDCs e assumir metas mais ambiciosas. Os mais vulneráveis não podem ter que escolher entre o combate à mudança no clima e o combate à pobreza. Terão que fazer ambos. O princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas, é inegociável. Ameaçá-lo vai na contramão de qualquer noção básica de justiça climática”, declarou.

Lula ressaltou o fato de as obrigações de financiamento e transferências de tecnologia ainda não terem sido efetivadas, apesar da urgência climática. “É inaceitável que a promessa de 100 bilhões de dólares por ano, assumida pelos países desenvolvidos, não saia do papel, enquanto os gastos militares chegaram a dois trilhões e duzentos bilhões de dólares”, apontou. Ao falar da Amazônia, destacou a responsabilidade coletiva pela floresta: “Mesmo que não derrubemos mais nenhuma árvore, a Amazônia pode alcançar seu ponto de não retorno se outros países não fizerem a sua parte. O aumento da temperatura global poderá desencadear um processo irreversível de savanização da Amazônia”, apontou.

Confira o discurso na íntegra:

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