Mais uma onda golpista em curso no Brasil

Lula precisa avançar nas pautas de defesa da soberania, desenvolvimento do país e da distribuição de riqueza, sem ceder nada mais aos financistas neoliberais

Por Jorge Folena

Já está em curso, no Brasil, uma nova onda golpista em várias frentes. Num claro gesto de agressão à autodeterminação do nosso país, inclusive com manifestações explícitas do “secretário da eficiência” do atual governo norte-americano e dono da rede X, estão pipocando nas redes sociais insinuações de movimentações e agitações de rua, como as ocorridas em julho de 2013. Em decorrência, os sabujos fascistas brasileiros estão promovendo convocações para o domingo 16 de março.

Os ataques e sabotagens, promovidos contra o governo de Lula da Silva a partir do primeiro dia da sua posse, estão sendo ampliados desde o final do ano passado, mediante a especulação com o dólar e a manipulação dos preços dos alimentos, entre outras manobras para induzir a maioria da população ao descrédito.

Porém, muitas derrapagens têm sido facilitadas pelos vacilos da equipe econômica que, em certa medida, se rendeu às pressões do mercado e aceitou a imposição do ajuste fiscal, que, até aqui, atingiu somente os mais pobres, em decorrência dos cortes no BPC e da limitação para aumentos do salário-mínimo.

Para mim, o cenário já está desenhado: como em 2013, serão reacendidas as agitações de rua e ampliadas as campanhas midiáticas para desgaste da popularidade do governo e do presidente, o que já está ocorrendo. E os mesmos fascistas, que agora pedem anistia para suas ações golpistas de 8 de janeiro de 2023, serão empregados para fazer as manifestações públicas e os pedidos de impeachment do presidente.

Ao final, depois de muito desgaste e da imposição de mais um processo de paralisação da economia do país (como fizeram a partir de julho de 2014, para promover o afastamento da presidenta Dilma Rousseff), será aprovado o semipresidencialismo, a ser defendido por intelectuais conservadores, ministros de tribunais superiores e demais autoridades, sob o pretexto de se estabelecer uma falsa paz e estabilização política superficial no Brasil.

Desse modo, promoverão ainda mais o enfraquecimento da soberania popular e o esvaziamento dos poderes da Presidência da República (que continuará a existir apenas com as atribuições de chefe de Estado e das Forças Armadas), com os parlamentares do “Centrão” (financiados pelos ricos) assumindo as funções governamentais, especialmente na gestão das finanças, o que já estão fazendo, de certa forma, por meio do controle das emendas parlamentares, estabelecidas pelo orçamento impositivo.

O que se pretende nessa etapa do processo golpista é afastar da chefia do governo as forças do campo democrático, popular e progressista, que ganharam democraticamente todas as eleições para a Presidência de 2002 a 2022 (sem esquecer que prenderam Lula em 2018 para impedi-lo de vencer naquele ano).

O que os fascistas não percebem é que também serão excluídos dessa nova partilha, pois não são aceitos na mesa de jantar dos muitos ricos, apesar de serem algumas das peças-chave usadas pela classe dominante para defender suas pautas anti-povo e anti-nação.

Assim, diante do atual rearranjo das forças que travam essa guerra híbrida contra o Brasil, o governo do presidente Lula não pode continuar recuado e jogando na retranca, para usar uma imagem de futebol, tão ao seu gosto; ao contrário, precisa avançar nas pautas de defesa da soberania e desenvolvimento do país (como a retomada do controle da Eletrobras e não renovando os contratos de concessão das distribuidoras de energia, que estão por vencer) e da distribuição da riqueza para melhorar a vida das pessoas e dar dignidade à classe trabalhadora, sem se deixar subjugar pelas chantagens do mercado e sem ceder nada mais aos financistas neoliberais.



* Folena é advogado e cientista político. Secretário geral do Instituto dos Advogados Brasileiros e Presidente da Comissão de Justiça de Transição e Memória da OAB RJ, Jorge também coordena e apresenta o programa Soberania em Debate, do movimento SOS Brasil Soberano, do Senge RJ.

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