Meirelles: um financista, vindo da J&F, no golpe dentro do golpe

O “golpe dentro do golpe” é entregar, em uma eleição indireta, a Presidência do país a Henrique Meirelles

Fonte: SOS Brasil Soberano

 

O “golpe dentro do golpe” é entregar, em uma eleição indireta, a Presidência do país a Henrique Meirelles, representante histórico dos interesses do capital financeiro internacional e ex-executivo da própria J&F. Ele parece ter credenciais melhores do que as de Michel Temer para fazer as reformas ultraliberais do projeto derrotado nas urnas – e que motivaram a derrubada da presidenta eleita, Dilma Rousseff –, pelo menos na avaliação dos atores que deflagraram o ataque recente ao governo Temer, uma articulação que uniu Grupo Globo, J&F (dono da JBS) e Procuradoria Geral da República.

Essa parece ser a aposta por trás da guinada súbita do noticiário da Globo, acometido de uma inusitada indignação republicana. O editorial “A renúncia do presidente” foi divulgado no meio da tarde da última sexta-feira (19) e pede a saída de Temer com base em uma argumentação que não se constrange, contudo, de usar a Constituição para defender eleições indiretas, depois de tê-la rasgado: derrubando a presidenta eleita e promovendo o desmonte do Sistema de Seguridadade Social previsto no texto constitucional de 88.

Desde a última quarta-feira (17), a sociedade assiste perplexa a uma saraivada de acusações, áudios, vídeos, comentários, fotos, que constróem um roteiro de promiscuidade e ilícitos envolvendo o governo Michel Temer, parlamentares e partidos, de um lado, e a J&F, do outro. O fato de o atual ministro da Fazenda e potencial candidato à sucessão de Temer ter sido, até a queda de Dilma, executivo de ponta do grupo corruptor não mereceu destaque. Henrique Meirelles foi presidente do conselho de administração da J&F, de 2012 a 2016, e presidente do banco Original, controlado pela J&F, entre 2015-2016. Totalmente digital e criado como projeto pessoal de Meirelles dentro do grupo, o banco Original não vai bem. Em março deste ano, segundo o jornal Valor Econômico, o Original vendeu sua marca à J&F, sua própria controladora, numa operação de R$ 422 milhões, que permitiu ao banco fechar o exercício de 2016 com lucro. Sem o negócio, teria apresentado prejuízo operacional de R$ 278,6 milhões no ano.

Meirelles assumiu na J&F em março de 2012 com a missão de criar estratégias para a expansão da empresa dentro e fora do país. Em matéria da revista Exame, na ocasião, Joesley Batista, o delator e um dos donos da J&F, explicava a contratação: “O Meirelles não vai ser apenas um consultor. Vai cobrar resultados dos executivos e traçar estratégias para a expansão do negócio”. Nesse contexto, não é possível ignorar – política ou judicialmente – a participação altamente estratégica do ministro nas atividades da J&F.

Tirar um presidente por seu comprometimento com um grupo empresarial e substituí-lo por um ex-funcionário e estrategista direto do mesmo grupo não pode ter motivação republicana. O que se pretende, com a troca, é buscar legitimar o golpe dado na Presidência e que continua em curso, com ataques à vontade popular e à cidadania brasileira. (Desprezadas as demais motivações de ordem econômica puramente empresarial que podem estar envolvidas no lance, considerando que a JBS, controlada pelo J&F, é uma das maiores anunciantes do Grupo Globo).

Henrique Meirelles fez sua carreira no setor financeiro internacional. Começou no BankBoston em 1974, e lá ficou por 28 anos. Entre outras funções, ocupou a presidência da instituição no Brasil e na matriz – o BankBoston mundial. Em 1999, o banco se fundiu ao grupo financeiro Fleet, criando o FleetBoston Financial, também presidido por Meirelles. O engenheiro que virou financista acumula prêmios pelos serviços prestados ao setor bancário. Melhor Banqueiro da América Latina em 2006, Prêmio Lide de Personalidade do Ano, dado em 2010 pela organização lobista de João Doria Jr.; Prêmio Bravo Awards de Financista do Ano em 2008; Prêmio Emerging Market Awards de Melhor Banqueiro Central para América Latina, também em 2008.

Já foi do PSDB, do PMBD, e agora é filiado ao PSD, partido de Gilberto Kassab. Nenhuma sigla, contudo, reflete o compromisso fundamental de sua biografia: o setor financeiro internacional e as empresas transnacionais atreladas a ele, para os quais pretende entregar o Brasil. E já começou a fazê-lo, ao congelar os gastos públicos por um período de 20 anos, ao propor medidas que inviabilizam a aposentadoria e fomentam o mercado de previdência privada, ao atacar direitos dos trabalhadores, ou ao permitir uma política econômica sem um banco forte de apoio ao desenvolvimento, induzindo o BNDES a atuar com taxas de mercado, entre outras iniciativas que Meirelles defende em todos os eventos públicos de que participa.

Contra o golpe, e contra o golpe dentro do golpe, e quaisquer outras manobras que agravem as violações às instituições brasileiras, é preciso restabelecer legitimidade ao governo e desfazer as medidas recentes que não contam com nenhum respaldo popular: eleições gerais diretas. Já.

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