Mulheres vão às ruas por democracia e garantia de direitos

O Senge RJ vai participar do 8 de Março na Praia, às 10h, em Copacabana, e do ato unificado do dia 9, na Candelária, largada para muitos protestos contra o governo neste mês de março
Muitas manifestações pelo Brasil foram programadas para todo este mês, que já está sendo chamado de Março Mulher, quando se celebra o Dia Internacional da Mulher, e que promete grande protagonismo feminino na pauta política. O Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ) participa do “8 de Março na Praia”, a partir das 10h, no Posto 4, em Copacabana, com o tema “Mulheres contra o machismo, o capital, o racismo e o terrorismo neoliberal.” No dia 9, o sindicato também estará no ato unificado de diversas entidades feministas, às 17h, na Candelária, no Centro.
Por que há um aumento no ativismo feminista, por que as mulheres estão mais participativas? “Porque as mulheres estão sendo atacadas, estão perdendo direitos”, alerta a engenheira eletricista Maria Virgínia Martins Brandão, diretora do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ) e  integrante do Coletivo de Mulheres da Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenheiros (Fisenge).
“O governo Bolsonaro e sua misoginia, a escalada autoritária, campanhas contra jornalistas, uma ministra da Cultura que bate continência, o desemprego, a expansão da informalidade, toda a situação econômica, sem um projeto soberano de crescimento para o país, todo esse horror afeta diretamente às mulheres”, diz a dirigente. “São elas, na maioria dos casos, as responsáveis pela família, por cuidar dos pais, dos filhos, do marido. Mesmo que seja uma dona de casa, na crise tudo piora para ela, que vai acumulando tarefas.”
Neste cenário, os indicadores de feminicídio não cedem. Em 2019, esse crime de ódio motivado pela condição de gênero, cresceu 7,3%, segundo os dados recém-divulgados do  Monitor da Violência, uma parceria do G1 com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que levantou informações em todos os estados do país. “A violência contra a mulher é gravíssima no Brasil”, afirma a diretora da Senge RJ, lembrando, por exemplo, o caso da estudante de Engenharia de 21 anos, jovem aprendiz da CSN, estuprada por um superior hierárquico dentro de um galpão da empresa, em outubro do ano passado. O estuprador foi preso, mas a jovem, ao retornar de três meses de licença, demitida. “É inaceitável que ainda ocorram brutalidades assim”, diz Virgínia. No ato do dia 8, em Copacabana, estão previstas atividades de apoio público à estudante.
Felizmente, as mulheres, inclusive as jovens, estão mais mobilizadas, cada vez mais envolvidas em ações políticas, avalia a dirigente. Além dos atos do dia 8 (8M) e do dia 9, coletivos e organizações feministas, representações de mulheres em centrais sindicais e nos partidos do campo progressista também estão se reunindo para preparar a presença maciça de mulheres em outras manifestações políticas previstas para março: no dia 14, cobrando a evolução das investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, um processo de forte potencial político devido às relações dos suspeitos com a família Bolsonaro; e no dia 18, nos grandes atos nacionais em defesa dos serviços públicos, de empregos, direitos e democracia. (Veja a agenda abaixo).
Mercado e representação política
Atualmente, o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) tem 816.565 profissionais homens registrados e 180.083 mulheres. Mesmo dentro das entidades de representação de classe, ainda é pequena a presença feminina nos postos de direção, observa a engenheira de produção Cristina Mitiko Hayssaka, conselheira no Crea-RJ e também diretora do Senge RJ, que cursa agora o sétimo período da Engenharia Civil e uma pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho.
Segundo ela, no Crea-RJ, entre 89 conselheiros, apenas oito são mulheres — incluindo a própria dirigente, que também é a única na direção da Associação de Engenheiros de Niterói; e uma entre quatro diretoras na colegiada do Senge RJ, composta por 24 integrantes.
Para melhor esse quadro de desequilíbrio, este ano, o Crea-RJ reativou o seu Comitê Pró-Equidade de Gênero e Raça, com a participação de representantes também do Conselho de Arquitetura e Urbanismo. Uma agenda de palestras vai levar feministas e ativistas às regionais para contarem a história da conquista dos direitos das mulheres. “Pessoas que vivenciaram a história, contando os esforços para conseguir  direitos que hoje muitos pensam que sempre existiram: direito de assinar um contrato, de trabalhar sem autorização do pai e do marido, poder receber herança, votar…”, destaca a engenheira naval Cládice Nóbile Diniz, representante do Senge RJ no Crea-RJ e integrante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim).
Há cerca de 30 anos, a engenheira eletricista Ligia Pessoa de Azevedo, diretora do Senge RJ, lembra que, no trabalho de campo, em oficinas ou subestações, não havia nem um espaço físico adequado para higiene. “Banheiro, vestiário, era só para homens”, lembra. “Agora melhorou, mas ainda não o suficiente. A criação de normas, nesse sentido, tem um papel crucial para consolidar os direitos, e para isso é importante a presença das mulheres nas mobilizações”, ressalta.
Fazer política significa ultrapassar barreiras concretas. As mulheres trabalham mais do que os homens, o que dificulta o ativismo e a militância, explica Cristina. “Quando elas se separam, em geral ficam com os filhos e se desdobram entre casa, trabalho, família. Mas é muito importante que participem das entidades, encontrem formas de estar dos movimentos. Sempre faço esse chamamento para que aumente a representatividade”.
As mulheres ainda são minoria, mas crescem dentro do setor, reconhece Cristina, que constata haver cada vez mais mulheres nos cursos de Engenharia, com reflexo crescente no mercado. Mas ela lembra que, na sua própria experiência, para chegar à função de coordenação, precisou enfrentar a resistência. “Tive que dar uns puxõesinhos de orelha nos chefes. A maioria dos cargos importantes era ocupada por homens. O chefe dizia que era por falta de vaga… mas logo depois da minha reclamação fui chamada. A mulher tem que mostrar que está insatisfeita com o que está vendo, buscar os mesmos direitos, posicionar-se.”
Agenda de luta – Março Mulher
  • Dia 8 –  “8 de Março na Praia”, a partir das 10h, no Posto 4, Copacabana
    >  Coreografia “Um estuprador no teu caminho”  – 10h – Praça Mauá
  • Dia 9 – Ato unificado – Pela vida de todas mulheres, por democracia e contra a retirada de direitos – 17h, Candelária, Centro
  • Dia 14 – Marielle Vive
  • Dia 18 – Dia Nacional de Lutas Protestos e Paralisações — Em defesa dos serviços públicos, empregos, direitos e democracia – 17h, Candelária, Centro
Engenheiras do futuro: uma chance para as meninas
Um trabalho relevante de formação de base, afirma a diretora do Senge RJ Virginia Brandão, é o projeto Engenheiras do Futuro, que realizou oficinas em algumas escolas públicas do Ensino Fundamental em municípios do Rio, durante 2018 e 2019, para mostrar a meninas que elas podem ser o que quiserem – cientistas, engenheiras, arquitetas… A idealizadora da iniciativa, a engenheira naval Cládice Diniz, integrante do Cedim, conta que há R$ 40 mil em verba parlamentar destinada ao Cedim, à espera de liberação do governo do Estado, para iniciar o programa este ano.
O Engenheiras do Futuro começou como uma ação de Cládice dentro Projeto Mulheres Inovadoras Acontecendo na UNIRIO, com apoio do Engenheiros Sem Fronteiras núcleo Rio de Janeiro (ESF Rio); Grupo de Afinidade Estudantil Women in Engineering (WIE) IEEE UFRJ; e Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres (CEDIM-RJ), além do Crea-RJ, que ofereceu a logística de transporte. As oficinas se baseiam na pedagogia de Paulo Freire e envolvem os professores das escolas atendidas, que ajudam, ainda, a identificar vocações, dificuldades cognitivas ou, noutra ponta, estudantes com superdotação. 
“O objetivo é levar para as meninas, particularmente de escola pública e baixa renda, a ideia de que elas podem seguir carreiras tecnológicas, profissões que no ambiente delas são tradicionalmente vistas como masculinas”, explica Cládice. 
As oficinas já foram aplicada em escolas de Saquarema e Itaguaí, formatadas para alunas de sete e oito anos, que envolvem dinâmicas, adivinhações, jogos, até a construção de uma pequena motocicleta de madeira, com projeto criado pela Universidade de Bogotá. Porque as crianças interagem melhor com mais jovens, a engenheira chamou estudantes da UniRio, onde dá aulas na pós-graduação, e do Capítulo Estudantil Feminino para participarem nas atividades.
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