A Pandemia de covid-19 agravou desigualdade e dificuldades para negros e negras no mercado de trabalho, efeito do racismo estrutural da sociedade brasileira, agravada no atual governo. Os dados são do boletim especial preparado para o Dia da Consciência Negra, pelo Departamento Intersindical de Estudos Socioeconôicos e Estatísticas (Dieese). Entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, um total de 8,9 milhões de trabalhadores e trabalhadoras perderam o emprego ou deixaram de procurar por achar que não conseguiriam recolocação. Deste total, 6,4 milhões (71,4%) eram negros ou negras e 2,5 milhões não negros.
Dos 6,3 milhões de negros que perderam ocupação no segundo trimestre de 2020, cerca de 2,9 milhões (47%) já estavam trabalhando no segundo trimestre de 2021. Para os não negros, os impactos da crise sanitária foram menores: dos 2,5 milhões que perderam as ocupações entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, 59% voltaram a trabalhar em 2021.
“O que terá acontecido? Haveria menos vagas para a população negra nessa retomada? Ou teriam sido eles mais vitimados pelo pandemia?”, questiona o boletim. Segundo dados do Ministerio da Saúde, os negros têm 40% mais chances de morrer de covid-19 – pois estão mais expostos. Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que eles representam 57% dos mortos pela doença, enquanto os brancos são 41%.
Os dados de ocupação e rendimento em 2021 mostram que persiste a intensa desigualdade de inserção e de ocupação entre negros/as e não negros/as. As médias de rendimento também comprovam a desigualdade de remuneração por cor/raça. Enquanto homens e mulheres não negros receberam em média R$ 3.471,00 e R$ 2.674, respectivamente, no 2º trimestre de 2021, trabalhadores negros ganharam R$ 1.968 e trabalhadoras negras, R$ 1.617.
“Os negros/as enfrentam mais obstáculos para conseguir uma colocação, ganham menos e têm frequentemente inserção mais vulnerável. As informações revelam ainda o triste momento do Brasil, que gera trabalho informal, com menores rendimentos e sem direitos garantidos em lei”, destaca o Dieese. “A economia não cresce, a expectativas dos agentes econômicos é ruim, logo não se observa investimento ou crescimento, a inflação aumenta. E, diante desse cenário, o único remédio que o governo sabe usar é o aumento da taxa de juros, que em nada ajuda a economia a crescer ou a inflação a cair.”
Os impactos foram mais intensos sobre os negros, seja pela dificuldade que essa população enfrenta para encontrar colocação ou pela necessidade de voltar antes ao mercado de trabalho, devido à falta de renda para permanecer em casa, protegida do vírus. Segundo o levangamento, entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que 8,9 milhões de homens e mulheres saíram da força de trabalho – perderam empregos ou deixaram de procurar colocação por acreditarem não ser possível conseguir vaga no mercado de trabalho. Desse total, 6,4 milhões eram negros ou negras e 2,5 milhões, trabalhadores e trabalhadoras não negros.
Com a vacinação, muitas pessoas voltaram a buscar colocação no mercado de trabalho, diz o boletim. Mas a economia brasileira não apresentou dinamismo suficiente para receber esse volume de trabalhadores. “Para os negros, a taxa de desemprego é sempre maior do que a dos não negros. Enquanto para os homens negros, ficou em 13,2%, no 2º trimestre de 2021, para os não negros, foi de 9,8%. Entre as mulheres, a cada 100 negras na força de trabalho, 20 procuravam trabalho, proporção maior do que a de não negras, 13 a cada 100.”
“A pandemia do coronavírus acentuou as diferenças”, ressalta o boletim. “No momento do isolamento, uma parcela muito maior de mulheres e homens negros perdeu o trabalho e voltou para casa, sem perspectiva de nova ocupação. Antes inseridos em ocupações de baixa qualificação e rendimento e, no caso das mulheres, no emprego doméstico, esses trabalhadores saíram do mercado de trabalho, mas, mesmo antes da vacinação, começaram a voltar, devido à necessidade de renda para a sobrevivência. O boletim relaciona algumas das dificuldades que marcam historicamente a inserção de negros e negras no mercado de trabalho, sempre muito maiores que as encaradas por não negros: desemprego mais alto, ocupações precárias, subtutilização e menores rendimentos.