No Faixa Livre, Felipe Araújo repercute a luta na EPE e a tentativa de apagar a história da Eletrobras

Diretor do Senge RJ alerta para perdas salariais acumuladas, pressão do arcabouço fiscal e o simbolismo da mudança de nome da estatal para Axia Energia

O programa Faixa Livre recebeu o diretor de Negociações Coletivas do Senge RJ, Felipe Araújo, na última segunda-feira (27/10), para entrevista sobre a mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em defesa de um acordo coletivo de trabalho digno e o anúncio da mudança de nome da Eletrobras para Axia Energia.

Na live com o jornalista Anderson Gomes, Felipe — que foi eletricitário em Furnas Centrais Elétricas de 2012 até a incorporação pela holding Eletrobras, onde segue até hoje — relatou o avanço da mobilização, que chega à quinta semana de greve. Após paralisações de 24, 48 e 72 horas, esta semana começou com a primeira greve de 96 horas. Caso as negociações com a empresa não avancem, o calendário aprovado em assembleia prevê novas paralisações de 96 horas, 120 horas e greve por tempo indeterminado a partir de 27 de novembro.

Felipe destacou que não há soberania nacional sem soberania energética. “Quem faz o planejamento de tudo que precisa ser viabilizado em termos energéticos para o crescimento do Brasil nas próximas décadas, quem prepara os leilões de energia e define o rumo dos setores elétrico, de gás e de petróleo é a EPE. Mas, na hora de negociar o acordo coletivo, após mais de 10 anos de perdas salariais que já acumulam mais de 20%, a proposta da empresa segue perpetuando essa política”, afirmou.

Segunda empresa estatal do país em número de mestres e doutores, ponta de lança da tecnologia nacional e responsável por subsidiar o planejamento energético para diversos ministérios, a EPE vem apresentando propostas rebaixadas para cláusulas sociais e financeiras, recusando-se a recompor as perdas. A mobilização tem registrado mais de 70% de adesão nas paralisações. “Isso só acontece quando a situação é crítica. Estamos fazendo greve porque a situação é grave”, destacou Felipe.

“Estamos reconstruindo um país para quem? Que tipo de Estado será este? É preciso ter luta”

Segundo o dirigente, a intransigência da empresa reflete a pressão do arcabouço fiscal sobre os investimentos necessários para o cumprimento de seu papel estratégico. Não faltam, no entanto, recursos para viagens e remunerações variáveis da diretoria. Outro obstáculo é a visão de que empresas que dependem do Tesouro seriam “custos” para os cofres públicos. “Desconsiderar o que elas entregam à sociedade e subordinar essas empresas a uma lógica privada de lucro crescente no final de cada exercício é um erro grave. Cada real investido na EPE, na Embrapa, no SGB-CPRM, volta multiplicado para a sociedade”, apontou.

Sem uma proposta minimamente digna da empresa ou dos ministérios envolvidos, o calendário de lutas será mantido, e a EPE avança para a paralisação total no próximo mês.

Registro de um trabalhador de Furnas no dia em que os símbolos da empresa foram retirados de sua sede — marco do apagamento histórico sistematicamente promovido pela direção privada da Eletrobras.

Axia Energia: tentativa de apagar o passado

A conversa também abordou o anúncio da mudança de nome da empresa para Axia Energia — uma tentativa evidente de apagar a história de uma companhia que nasceu pública, foi construída com recursos do povo brasileiro e teve 57% de seu patrimônio vendido no apagar das luzes do governo Bolsonaro. “O objetivo é fazer com que as pessoas desvinculem a imagem da empresa das consequências da privatização de um bem que era do povo brasileiro, reconhecido como mola propulsora do desenvolvimento nacional, e que agora serve aos interesses dos acionistas, buscando o máximo lucro possível”, disse Felipe.

Ele lembrou o episódio, durante o governo Fernando Henrique, em que se tentou mudar o nome da Petrobras para Petrobrax, para facilitar o entendimento dos acionistas estrangeiros. A mudança foi barrada, mas a perda dos acentos em Petrobras e Eletrobras se consolidou, apesar das regras da língua portuguesa.

Felipe também recordou o processo de incorporação de Furnas pela holding, que teve justificativa econômica, mas o objetivo político de apagar a identidade de um corpo técnico de excelência e uma forte organização sindical. “No caso de Furnas, nós tínhamos muitos símbolos — obras de arte, um grande logo da torre de dupla estrela — que foram da sede de Botafogo para um museu e estão lá, esquecidos.”

🎧 Assista à entrevista na íntegra a partir de 1:43:00 abaixo.

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