O desafio de conquistar novas gerações para a militância política

Dara Sant'Anna, do ENEGRECER, falou sobre os caminhos que o coletivo encontrou para, através da cultura e da educação, chegar à juventude periférica e despertar sua potência para a militância política

Na vanguarda dos movimentos políticos ao longo da história do país, a juventude brasileira protagonizou grandes momentos e foi fundamental em conquistas democráticas. Nos últimos anos, porém, os movimentos sociais e a política institucional vêm notando a drástica diminuição da participação de pessoas mais jovens na militância.

Entidades profissionais e sindicatos, coletivos populares e organizações sociais dedicadas a pautas importantes para as cidades, estados e para o país têm convivido com uma abrupta diminuição na renovação de seus quadros. 

A reversão desse cenário alarmante foi o tema do Soberania em Debate de 27 de junho, com a participação de Dara Sant’Anna, do Coletivo Nacional de Juventude Negra Enegrecer. Com foco na militância jovem periférica, o movimento – que já conta com representações no legislativo federal e de diferentes cidades e estados – busca construir espaços de articulação e formação política anticapitalista, antirracista, antipatriarcal, não homo/les/transfóbica para a efetivação da cidadania da juventude negra.

 

Mostrando a transformação possível

Ao longo da entrevista conduzida pela jornalista Beth Costa e pelo advogado Jorge Folena, Dara falou sobre a importância de escuta ativa e olhar atento ao território onde os jovens vivem e aos espaços de cultura e educação que eles acessam. Só após a integração com esses espaços e a concretização de mudanças imediatas, é possível ampliar horizontes: a prática cotidiana nos territórios, segundo Dara, é o caminho para o engajamento.

“Temos uma horta comunitária na Kelson, na Penha, que já foi vinculada à escolinha de futebol, à roda de mulheres e outras atividades do território. Quando chega a colheita, não distribuímos aquele alimento apenas, mas conversamos sobre segurança alimentar, saúde preventiva. Antes de a gente chegar lá panfletando e falando sobre esses assuntos, construímos a horta, porque sabemos que há fome naquele território. Antes de a gente falar sobre a importância da cultura para o jovem, a gente cola na roda de rimas, no slam dele. Ele apresenta o trabalho dele e nós falamos sobre a nossa horta. A gente não fala que é possível. A gente mostra”, conta Dara.

A educação é outra ferramenta usada pelo coletivo. Com contação de histórias para crianças e debates em turmas de ensino médio e universitárias, o Enegrecer promove atividades em escolas e universidades. “A partir desses debates eles vão questionando a história deles e nós oferecemos as ferramentas para que eles se entendam como agentes de transformação”, destacou Dara.

A ativista tratou, ainda, da importância da mobilidade urbana para que estes jovens se integrem à cidade e da urgência da atenção do campo progressista às eleições para os Conselhos Tutelares. O respeito às cotas eleitorais e a garantia de que partidos que não as respeitam não serão anistiados, também foram destaque na entrevista.

O programa Soberania em Debate, projeto do SOS Brasil Soberano, do Sindicato dos Engenheiros no Rio de Janeiro (Senge RJ), é transmitido ao vivo pelo YouTube, todas as quintas-feiras, às 16h. A apresentação é da jornalista Beth Costa e do cientista social e advogado Jorge Folena, com assessorias técnica e de imprensa de Felipe Varanda e Lidia Pena, respectivamente. Design e mídias sociais são de Ana Terra. O programa também pode ser assistido pela TVT aos sábados, às 17h e à meia noite de domingo.

 

Rodrigo Mariano/Senge RJ | Foto: Instagram ENEGRECER (@coletivoenegrecer)

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