por Jorge Folena*
O editorial do Global Times de 06/03/25, sobre a meta de 5% do PIB da China para 2025, deixa claro que, para os chineses, o centro da economia é a população, e não os interesses do mercado, como querem impor os banqueiros. Destaquei abaixo um trecho para a compreensão do que se passa naquele país, sob a liderança do PCCh:
“… a filosofia de desenvolvimento centrada no povo é a base da viabilidade econômica da China. O relatório enfatiza que o crescimento da renda pessoal deve estar em sintonia com o crescimento econômico, mais fundos e recursos serão usados para servir ao povo e, pela primeira vez, inclui estabilidade no mercado imobiliário e no mercado de ações como parte dos requisitos gerais, refletindo uma resposta aos meios de subsistência das pessoas. Seja a vitória abrangente na redução da pobreza ou o investimento contínuo em educação, saúde e outros serviços públicos, o Partido e o Estado sempre tomaram as aspirações do povo por uma vida melhor como seu objetivo final”.
Na noite do domingo de 30 de outubro de 2022 (segundo turno da última eleição presidencial do Brasil), após ter vencido o adversário de extrema direita, Luiz Inácio Lula da Silva, ao se pronunciar para os brasileiros e o mundo, apresentou um pacto de reconstrução e união nacional, necessário e essencial depois dos quatro anos de destruição da democracia e das instituições por Jair Bolsonaro e seus seguidores, grandes defensores das políticas neoliberais promovidas pelo voraz mercado financeiro.
O presidente Lula foi eleito pela maioria do povo brasileiro para retomar o processo de desenvolvimento nacional, que, no ano passado, sob sua liderança, gerou um PIB de 3,4%, segundo informou o IBGE em 07/03/2025. Vale lembrar que a marcha desenvolvimentista, iniciada em 2003 com os governos do Partido dos Trabalhadores, foi interrompida a partir de 2014 e culminou no afastamento indevido da presidente Dilma Rousseff das suas funções, em 2016.
Em toda a sua trajetória política e nas duas passagens anteriores pela Presidência da República Federativa do Brasil, nos anos de 2003 a 2010, Lula foi um legítimo representante dos nossos antepassados e sempre lutou para incluir os interesses do povo nas políticas públicas do Estado brasileiro, o que jamais tinha acontecido antes na História deste país muito rico, mas com uma absurda desigualdade social, mantida pela mão de ferro da classe dominante, que ao longo de séculos se beneficiou e se enriqueceu com a superexploração das camadas trabalhadoras.
Ocorre que, nesta sua terceira empreitada, Lula vem enfrentando muitos obstáculos no processo de implementação do projeto político vitorioso nas urnas em outubro de 2022, sendo sabotado pela classe dominante desde o primeiro dia à frente do atual governo do país.
Por isso, entendo que, diante das dificuldades políticas e pressões midiáticas que tentam paralisar o governo e mantê-lo atrelado aos interesses do grande capital financista, o presidente Lula precisa fazer uma virada definitiva e muito clara em direção às aspirações do povo “por uma vida melhor”, como pregado pelos chineses.
As últimas pesquisas indicam a existência de uma perda de popularidade do presidente, numa redução que aponta diretamente para o eleitorado mais pobre e periférico. Acredito que, independentemente das mentiras e ações promovidas pelos fascistas na rede mundial de computadores, a desilusão da população mais pobre tem muito mais a ver com a política de ajuste fiscal, promovida pelo Ministério da Fazenda para acomodar e atender os interesses dos financistas, com suas recentes medidas que só trouxeram prejuízo à classe trabalhadora, em particular os mais pobres.
Sendo assim, quero crer que o presidente compreendeu afinal o que estava se passando ao seu redor e, ao convidar a ministra Gleisi Hoffmann para assumir a Secretaria de Relações Institucionais, dá sinais claros de que pretende colocar-se mais próximo do povo pobre e periférico, que sempre nutriu esperanças de que seu governo possa trazer transformações efetivas para a vida dessas pessoas, que convivem há gerações com os fantasmas do passado não resolvido do genocídio dos indígenas e da escravidão negra, que se materializam no presente com os assassinatos de jovens e crianças negras e mestiças nas grandes cidades do país. PS.: No Dia Internacional das Mulheres (8 de março) é sempre importante lembrar que “salvar as mulheres é salvar o mundo!”.
* Folena é advogado e cientista político. Secretário geral do Instituto dos Advogados Brasileiros e Presidente da Comissão de Justiça de Transição e Memória da OAB RJ, Jorge também coordena e apresenta o programa Soberania em Debate, do movimento SOS Brasil Soberano, do Senge RJ.
Foto: Ricardo Stuckert/PR