“O governo não é o poder; é apenas uma parcela dele”, diz Jorge Folena

Jurista afirma que transformar o Brasil exige superar o poder estrutural da classe dominante, além de ocupar o Estado

Em entrevista concedida ao programa Giro das Onze, transmitido pela TV 247, o jurista Jorge Folena analisou os desafios enfrentados pelo campo democrático e popular para efetivar mudanças estruturais no Brasil. A fala de Folena abordou especialmente o papel do Estado, das instituições e da classe dominante na manutenção das desigualdades e da repressão política no país.

Segundo o jurista, o poder no Brasil continua concentrado nas mãos de uma elite que atua para bloquear avanços sociais e democráticos. Para ele, o controle do governo — embora importante — não é suficiente para transformar profundamente a sociedade. “O governo não é o poder; é apenas uma parcela dele”, declarou. Folena afirmou que, embora o retorno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República represente uma conquista, as estruturas do Estado seguem ocupadas por setores conservadores e autoritários.

“O poder como um todo, o governo é importante, o governo do campo democrático, popular e progressista, mas precisa, fundamentalmente, que as suas bases políticas, que o seu partido, que os partidos que compõem esse campo conduzam os seus filiados e a sua militância para o caminho que queremos de um Brasil justo”, disse.

Folena foi incisivo ao denunciar o enraizamento do fascismo nas instituições. “As instituições do Estado brasileiro estão tomadas de fascistas, tomadas todas as instituições brasileiras, todas”, afirmou. Segundo ele, isso se verifica em diferentes esferas do poder, como no Judiciário, no Legislativo e nas forças de segurança.

Durante a entrevista, o jurista também fez duras críticas à forma como a classe dominante brasileira atua contra os interesses nacionais. “Michel Temer, como Bolsonaro, como Arthur Lira, como Hugo Motta, como outros do passado, como Fernando Collor de Mello, são agentes, meros agentes prepostos de uma classe dominante minoritária, que trabalha contra os interesses do seu próprio país”, apontou.

Folena ainda abordou a seletividade das instituições judiciais, destacando a disparidade entre o tratamento dado a jovens pobres e a figuras poderosas condenadas por corrupção. “Colocam jovens pobres no sistema penitenciário por crimes patrimoniais de pequena monta por 10, 15 anos. Já corruptos condenados, como Fernando Collor, ficam em casa, confortavelmente, cumprindo pena”, criticou.

Em sua avaliação, o Partido dos Trabalhadores (PT) é peça fundamental na resistência e construção de uma alternativa ao poder da elite tradicional. “Dentro do Partido dos Trabalhadores tem muitos quadros. A direita é que diz que o Partido dos Trabalhadores não tem quadros. Tem, e esses quadros sairão no momento certo”, disse. Ele também defendeu o papel da militância: “O partido é todo o conjunto dos filiados e daqueles que defendem a bandeira, os ideais e os princípios daquele partido político”.

Ao final da entrevista, Folena voltou a ressaltar que mudanças estruturais não virão apenas pela via governamental. “Se governo não é suficiente para mudar um pensamento de uma sociedade, o poder é muito mais que isso”, concluiu.

Assista:

 

Fonte: Brasil 247 | Foto: Divulgação | Bruno Spada/Câmara dos Deputados

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