O que está em jogo com o PL 4330?

Artigo do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) discute projeto de terceirização

A informação sobre a “Lei de Terceirização”

A Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de “Lei da Terceirização” (PL 4330) –  onde  324  deputados  votaram  a  favor  e  127  contra, somente  PT,  PSOL  e  PCdoB  votaram  contra.  O  projeto representa  um  dos  piores  ataques  contra  os  trabalhadores  dos  últimos  50  anos,  o  PL  4330  prevê  a  “flexibilização  global”  nas  leis  trabalhistas.  A  proposta  central  autoriza  a  ampliação da terceirização  para todas  as  áreas, incluindo  as  “atividades­fim”  das  empresas. Atualmente  existem  cerca  de  48  milhões  de  trabalhadores  com  carteira  assinada,  destes cerca 12,7 milhões são terceirizados (26%) e seus ganhos salariais são cerca de 25%  menores. No  entanto  em países  onde  a lei já foi  aprovada,  a terceirização saltou  em média  para  60%.  Ou  seja,  pelo  mínimo  20  milhões  de  trabalhadores  brasileiros  tendem  a  ser  demitidos nos próximos anos e, uma parte, será recontratada, porém com salários no mínimo  25% mais baixos e sem direitos trabalhistas.

Como exemplo, podemos citar o setor elétrico brasileiro que foi privatizado na década  de 90,  atualmente  70% da distribuição  e 40% da geração  esta  privatizado. Não mais  de 20  grupos  econômicos  controlam  a  geração,  transmissão,  distribuição  e  comercialização  de  energia  elétrica,  no  entanto,  pelos  dados  fornecidos  pela  ANEEL,  existem  cerca  de  3.334  agentes (empresas)  de  geração,  153  comercializadoras,  e  mais  de  100  distribuidoras  –  que  possuem outras centenas ou milhares de subcontratadas. Dos 260 mil trabalhadores, cerca de  58% são terceirizados, no entanto, nas empresas privadas o índice é bem maior, chegando a  70% e no caso da distribuidora AMPLA/RJ chega a 85%. Significa, que a realidade mostra  que a terceirização poderá ultrapassar os 60% de média.   Praticamente  a  totalidade  dos  trabalhadores  brasileiros serão  atacados  nos  próximos  anos através da “lei de terceirização”.  Portanto, a luta para derrotar a “lei da terceirização” é  uma  luta  de  classe,  uma  luta  em  defesa  dos  direitos  da  classe.  Derrotar  esta  iniciativa  da  direita é uma necessidade e obrigação de toda classe trabalhadora.

O objetivo do capital com a “Lei de Terceirização” A classe trabalhadora sofrerá perdas gigantescas  e a classe  capitalista será os únicos  que  sairão  ganhando.  Aos  trabalhadores  a  terceirização  significará  mais  exploração  e  aos  empresários aumentos dos lucros. 1. A  estratégia  da terceirização serve  para intensificar  a  exploração  do trabalho  dos  trabalhadores  para  aumentar  o  lucro  das  empresas.  As  novas regras  obrigarão  os  trabalhadores  trabalhar  mais,  para  produzir  mais  e  ao  mesmo  tempo  fazer  os  trabalhadores  ganhar  menos  ­  diminuir  o  valor  da  força  de  trabalho (rebaixar  os  ganhos dos trabalhadores a patamares mais baixos através da redução salarial, retirada  de direitos, aumento da jornada de trabalho, etc.).  2.

O segundo objetivo é a desorganização dos trabalhadores para diminuir sua força  enquanto classe. O ganho salarial e os direitos da classe trabalhadora são resultado da  luta  de  classe,  portanto,  nada  é  ganho,  tudo  é  conquistado  pela  luta  histórica.  A  terceirização  impõe fracionamento  dos  trabalhadores  e  consequentemente reduz sua  capacidade  de  luta  enquanto  categoria  e  enquanto  classe.  Além  de  uma redução  na  sindicalização dos trabalhadores, a pulverização sindical será crescente.

A estratégia do capital com a “Lei de Terceirização” A estratégia fundamental do capital é intensificar a reestruturação do trabalho no  interior  das  empresas  para  intensificar  a  exploração  do  trabalho,  por  isso  necessitam  alterar  a  forma  de  contratação  dos  trabalhadores para  chegar  aos  seus  objetivos  que  é  aumentar a taxa de exploração sobre os trabalhadores para aumentar o lucro dos empresários e  desorganizar  a  classe trabalhadora para reduzir sua força  e  capacidade de luta. Desta forma  conseguirão  diminuir  custos  através  da  redução  e  diminuição  dos  trabalhadores  do  quadro  próprio das empresas, concomitante, ao aumento do número de trabalhadores terceirizados.  A nova Lei (4330) propõe uma reestruturação no “mercado da força de trabalho”  propondo uma (re)organização pelas regras do capital financeiro, ou seja, a terceirização é  a  estratégia  do  neoliberalismo  aplicada  nas  leis  trabalhistas  para  obrigar  os  trabalhadores  trabalhar mais  e ganhar menos  e permitir maior  especualação. A lei de terceirização  é uma  prioridade  do  capital  internacional,  que  ao  se  instalar  aqui,  exige  flexibilidade  nas  leis  trabalhistas semelhantes aos lugares mais precarizados de outras partes do mundo. A  característica  principal  do  capital  financeiro,  com  a  “nova”  organização  de  contratação  de  trabalhadores,  é  o  fracionamento  em  vários  segmento  de  negócios (“prestadoras  de  serviços”) onde  as  “atividades­fim”  serão  desenvolvidas  por  empresas  terceirizadas “independentes” mesmo sendo parte da mesma estrutura empresarial, permitindo  desta  forma  explorar  mais  os  trabalhadores.  Cada  fração  passa  ser  um  projeto  de  empreendimento  que  terá salários,  jornada  de  trabalho  e  leis  trabalhistas  diferentes  para  os  trabalhadores  entre  empresas  e  dentro  da  mesma  empresa  que  ali  atuarem,  ou  seja,  uma  estratégia de fracionamento e redução dos ganhos dos trabalhadores. A  base  teórica  é  a  idealização  de  que  os  indivíduos  existem  num  mundo  de  coisas  escassas,  onde  o  “mercado idealizado”  da Força  de Trabalho  pelo  capital financeiro  quer  a  “liberdade total” para negociar livremente a contratação de trabalhadores, sem ter que levar  em  consideração nenhuma regra  e parâmetro  como ponto de partida de  agora  em diante na  contratação  de  trabalhadores.  Ou seja,  o  capital  não  precisaria mais respeitar  as  conquistas  históricas que a classe trabalhadora já teve até este momento (CLT).

A ideia fundamental do capital, para o “mercado idealizado” da força de trabalho, é a  individualização das formas de contratação. Segundo suas teorias, os indivíduos têm em sua  essência  uma  natureza  comportamental  comum  e inerente  a todos:  que  é  a  de maximizar  o  benefício e minimizar o prejuízo no ato de troca, ou seja, no ato de contratação da Força de  Trabalho  pelo  capital.  Por  isso,  a  melhor  forma  seria  o  estabelecimento  da  “livre  concorrência”  no  mercado  da  força  de  trabalho,  isto  é,  a  organização  do  “mercado  de  trabalho”  deverá ser forjada  no  encontro  dos  indivíduos  vendedores  da  Força  de  Trabalho  (trabalhadores)  com  os  indivíduos  consumidores­compradores  da  Força  de  Trabalho  (empresários) – e diga­se, sem regras, leis trabalhistas  e direitos  a serem respeitados (CLT)  como ponto de partida inicial.  Para  os  empresários,  a  nova  lei  (PL  4330)  permitiria  a  melhor  “concorrência”  dos  “indivíduos  compradores  (capital)”  com  os  “indivíduos  vendedores  (trabalhadores)”  para  “maximizar  o  benefício  a  todos”.  Para  o  capital,  quanto  maior  e  mais  completa  for  esta  individualização e concorrência, melhor seria a organização do modelo de (re)organização do  mercado da força de trabalho que estão propondo. Uma grande mentira. É importante compreender, que esta ofensiva do capital (principalmente internacional),  vem num momento em  que todos os dados das principais fontes de referência apontam para  continuidade e agravamento da crise econômica mundial iniciada em 2008. O capital mundial  vem  encontrando  dificuldades  de  encontrar  locais  de  realização  de  valor.  Então,  a  classe  capitalista  mundial  – responsável  pela  crise  ­  vem  fazendo  de  tudo  para  derrubar  a  classe  trabalhadora mundial para explorar mais e para aumentar seus lucros. A lei da terceirização é  parte desta estratégia. Esta  arquitetura  complexa de organização do mercado de trabalho serve para que os  agentes  empresariais  exerçam  o  controle  político,  ideológico  e  econômico  sobre  os  trabalhadores,  para  viabilidade  do  projeto  de  exploração  de  trabalho  excedente  que requer,  neste momento histórico de grande crise econômica mundial, condições mais favoráveis para  a classe capitalista explorar mais os trabalhadores.   No  caso  brasileiro,  não  há  duvidas  que  os  empresários  e  os  seus  lacaios,  que  os  representam  no  Congresso  Nacional,  querem  acabar  com  todas  as  principais  conquistas  trabalhistas  ao longo da história de luta da  classe trabalhadora de nosso país,  acabar  com  a  CLT (Consolidação das Leis de Trabalho) que garante ‘igualdade’ de direitos, o pagamento  de  salários,  o  estabelecimento  de  uma  jornada  de  trabalho  máxima,  pagamento  de  horas  extras,  férias,  13º  salário,  seguro  desemprego,  fundo  de  garantia,  aposentadoria,  acordos  coletivos, bonificações, etc.

 

As consequências ao povo brasileiro

Se  a  “lei  da  terceirização”  for  aprovada  em  definitivo  e  implementada,  não  há  duvida  nenhuma  que  os  trabalhadores  pagarão  a  conta.  Abaixo,  apontaremos  as  principais  consequências que a terceirização provocará ao povo brasileiro:

• Vai  aumentar  a  jornada  de  trabalho  aos  trabalhadores,  sem  aumento  de  salário.  A  jornada dos terceirizados chega ser de 3 horas a mais de trabalho diárias.

• Milhões  de  trabalhadores  que  atuam  das  “atividades­fim” serão  demitidos,  para (nem  todos) serem recontratados posteriormente em condições piores de salários e de trabalho. Todos correrão risco de demissão, inclusive os terceirizados. Atualmente são 13 milhões  de  trabalhadores  terceirizados  (26%),  este  número  poderá  chagar  a  60%  do  total  dos  trabalhadores  formais,  ou seja,  entre  15  e  20  milhões  que  atuam  nas  “atividades­fim”  poderão  ser  demitidos.  O  capital  deseja  aumentar  o  exercito  de  trabalhadores  desempregados, o chamado exército de reserva, para pressionar os salários para baixo.

• Vai  reduzir  o  salário dos  trabalhadores  de  maneira  geral.  Os  dados  mostram  que  a  remuneração dos terceirizados é, em média, 25% menor.

• Vai  aumentar  a  precarização do  trabalho  dos  trabalhadores.  Os  trabalhadores  terceirizados  possuem  condições  de  trabalho  piores  que  os  trabalhadores  do  quadro próprio, passam por treinamentos deficitários, recebem benefícios menores, sofrem com a  falta de equipamentos de proteção, etc. A tendência é aumentar os acidentes de trabalho e  as mortes de trabalhadores em seus locais de trabalho.

• Vai  aumentar  a  corrupção,  já  que,  em  tendência,  as  futuras  contratações  serão  realizadas sem  concurso.  Será  por  proximidade  e  interesses.  A  própria  fiscalização se  tornará  mais  difícil,  porque  os  grupos  econômicos  serão  fracionados  em  milhares  de  empresas dentro de uma mesma estrutura empresarial.

• Vai rebaixar a qualidade dos serviços públicos prestados à população, os trabalhadores  terão  que  trabalhar mais,  terá menos  trabalhadores  e  a  qualificação  e  treinamento será  menor. Diminuirá a fiscalização sobre as empresas e afetará a qualidade do serviço e do  trabalho.

• Vai  aumentar  a  rotatividade nos  postos  de  trabalho,  trabalhadores serão  demitidos  e  recontratados  em  velocidades  cada  vez  maiores  para  evitar  criar  vínculos  trabalhistas.  Tendência é aumentar o número de trabalhadores como com “contratos de experiência”,  ou temporários e/ou de  “estagiários”.

• Os 13 milhões de trabalhadores terceirizados também sofrerão perdas com demissões  e  rebaixamento salarial,  porque  com  as  demissões  e  redução salarial  dos  próprios  vai  haver um rebaixamento dos ganhos dos terceirizados.

• As  mulheres serão  mais  afetadas,  além  das  perdas  com  a  terceirização,  as  mulheres  recebem em média 20% a menos de remuneração que os homens numa mesma área de  trabalho. x Vai diminuir a arrecadação em impostos já que, na prática, as empresas terceirizadas  recolhem dos trabalhadores mas não repassam ao governo, ficando com o dinheiro para  aumentar seus lucros.

• Um ataque para acabar com a CLT.

Água e energia, com soberania, distribuição da riqueza e controle popular!

São Paulo, 15 de abril de 2014. 

MAB Gilberto Cervinski

 

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