Oito homens detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo, diz relatório

Documento da ONG Oxfam alerta que medidas devem ser tomadas urgentemente para reverter cenário desigual

Via Brasil de Fato

 

De acordo com dados do relatório “Uma economia para os 99%” elaborado pela Oxfam, atualmente, o patrimônio de apenas oito homens é igual ao da metade mais pobre do mundo. Baseado em informações do “Credit Suisse Wealth Report 2016” e na lista de super-ricos da revista Forbes, o documento analisa como grandes empresas e pessoas super-ricas estão acirrando a crise da desigualdade e quais caminhos podem ser trilhados para mudar essa situação.

Os dados demonstram como o crescimento econômico tem ocorrido no sentido de beneficiar os mais ricos e perpetuar a situação de marginalização dos mais afetados pela pobreza. Entre 1988 e 2011, enquanto a renda dos 10% mais pobres aumentou cerca de US$ 65, a dos 1% mais ricos aumentou cerca de US$ 11.800, ou seja, 182 vezes mais. Além disso, dos 1.810 bilionários existentes no mundo, 89% são homens — revelando uma interseccionalidade entre a desigualdade de renda e a de gênero.

Projeta-se que, ao longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas passarão mais de US$ 2,1 trilhões para seus herdeiros — uma soma mais alta que o PIB da Índia, país com 1,2 bilhão de habitantes. Nos Estados Unidos, uma pesquisa recente realizada pelo economista Thomas Pickety revela que, nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico aumentou 300%.

O relatório também elenca as causas da desigualdade acirrada constantemente. Entre elas está, por exemplo, o fato de as empresas trabalharem para os que estão no topo da hierarquia de riqueza. Segundo a análise, as empresas constituem força vital para a economia de mercado e, quando trabalham em benefício de todos, desempenham relevante papel na construção de sociedades justas e prósperas. No entanto, elas estão cada vez mais trabalhando para os ricos, negando, assim, os benefícios do crescimento econômico aos que mais precisam deles.

Outras causas apontadas também são o arrocho do salário de trabalhadoras e trabalhadores e da receita de fornecedores, ao passo em que a renda de altos executivos tem aumentado vertiginosamente; a sonegação de impostos e o capitalismo de camaradagem — quando as grandes empresas usam seu poder e influência para garantir que regulações e políticas sejam formuladas de maneira que possibilite a continuidade de seus lucros.

O texto argumenta que muitas políticas e investimentos são fundamentadas em uma série de falsas premissas, e que elas também perpetuam a desigualdade econômica. Entre elas está a ideia de que o mercado está sempre certo e que o papel dos governos deve ser minimizado; de que o nosso modelo econômico é neutro em relação a gênero; de que a riqueza individual extrema é um sinal de sucesso e de que o crescimento do PIB deve ser o principal objetivo da formulação de políticas.

Ainda na análise do relatório, não é possível dissociar a realidade da conjuntura política mundial, do aprofundamento da desigualdade. “O resultado do plebiscito Brexit, a vitória de Donald Trump na eleição presidencial nos Estados Unidos, o aumento preocupante do racismo e a desilusão generalizada com a política tradicional indicam cada vez mais que, um número crescente de pessoas nos países ricos, não está mais disposto a tolerar o status quo”, diz um trecho do documento.

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