A pesquisa “O Trabalho e o Brasil”, realizada com 3.850 trabalhadores de diversas categorias, também mostrou que mais de 70% defendem o direito de greve. O estudo foi encomendado pela CUT e Fundação Perseu Abramo, com apoio do Dieese e do Fórum das Centrais Sindicais.
52% dos trabalhadores afirmam estar satisfeitos ou muito satisfeitos com a atuação sindical, aponta o levantamento. O reconhecimento atravessa diferentes perfis profissionais: entre autônomos e empreendedores, segmento tradicionalmente distante do sindicalismo, quase metade gostaria de se filiar a um sindicato.
Adriana Marcolino, diretora técnica do Dieese, destacou que os resultados contradizem a narrativa de que sindicatos perderam representatividade. Segundo ela, a pesquisa demonstra que diversos segmentos do mercado de trabalho reconhecem a importância dessas entidades, embora sinalizem a necessidade de maior proximidade.
Entre as contribuições reconhecidas pelos trabalhadores estão a melhoria de salários e condições de trabalho, a valorização da mediação com empresas e a defesa de direitos. Esse reconhecimento é particularmente forte entre jovens e nas regiões Nordeste e Sul.
O paradoxo do desconhecimento
Apesar da avaliação positiva, a pesquisa identificou um paradoxo: 52,4% dos entrevistados afirmam desconhecer as ações concretas dos sindicatos que os representam.
Quando perguntados sobre como melhorar a representação, os trabalhadores indicaram três prioridades principais: maior presença no local de trabalho (49,4%), melhor comunicação (37,5%) e oferta de cursos de qualificação (29,6%).
As principais demandas para a ação sindical incluem melhores salários (63,8%), geração de bons empregos (36,6%), saúde e segurança (26,6%), redução da jornada (21%) e combate à discriminação (18%).
Informalidade limita sindicalização
A taxa de sindicalização encontrada foi de apenas 11,4%, embora o interesse seja maior: 14,6% afirmam que certamente se filiariam e 35,9% consideram possível.
O dado mais expressivo refere-se aos autônomos e empreendedores: 49,6% defendem ter um sindicato próprio, mas esbarram na legislação brasileira, que restringe a organização sindical a categorias formais e profissionais liberais.
Para Marcolino, este é o grande desafio atual do movimento sindical. Ela observa que autônomos e informais, representando 38% da classe trabalhadora, consideram os sindicatos importantes e gostariam de se sindicalizar, mas não têm essa possibilidade institucional.
A fragmentação do mercado de trabalho — com terceirizados, PJs, alta rotatividade e informalidade — contribui para a queda da taxa de sindicalização. Segundo a socióloga, embora existam problemas internos no movimento sindical, a nova organização do trabalho também impactou a representação, e falta uma estratégia adequada para esse cenário.
A pesquisa também revelou que 56% dos atuais autônomos que já tiveram carteira assinada gostariam de retornar ao regime CLT, evidenciando que a informalidade nem sempre é uma escolha.
Com informações de matéria publicada por Leonardo Sakamoto no site do UOL
Foto: CUT