Assessor sindical defende industrialização e sistema de proteção universal

Para Clemente Ganz Lúcio, assessor da CUT, a reindustrialização do país e uma proteção sindical, laboral e previdenciária para todos, em qualquer regime de contratação, deve ser a prioridade dos sindicatos no próximo governo.

Industrializar o país novamente, com emprego de qualidade, deve ser a prioridade do movimento sindical em relação ao próximo governo, na opinião do sociólogo Clemente Ganz Lúcio, assessor sindical da CUT, atualmente na equipe de transição do governo Lula-Alckmin. A segunda demanda mais importante seria um projeto de reorganização das relações de trabalho e de proteção universal, afirmou, durante o seminário “Os engenheiros, as engenheiras e a proposta de uma nova política sindical brasileira”, promovido pela Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), com apoio da Mútua, no dia 18, no auditório do Crea-RJ.

De acordo com Clemente, os trabalhadores devem disputar um modelo de desenvolvimento capaz de promover a reindustrialização com valor agregado e distribuição de produtividade, e um sistema de proteção sindical, laboral e previdenciária, que abranja todos os trabalhadores, independentemente do setor ou da forma de contratação. Ou seja, um auxílio-doença ou licença maternidade valeria tanto para um trabalhador ou trabalhadora vinculada a uma grande empresa, quanto para uma entregadora autônoma ou um moto-táxi.

“Vamos produzir a proteção sindical, laboral, previdenciária para todo mundo”, defendeu. “É para isso que temos que nos mobilizar, e associar, a esse projeto de mudança, um projeto de lutas e organização. Porque, sem pressão, ele não vai acontecer.”

A disputa por essa expansão de direitos, num modelo novo de relação entre capital e trabalho, inclui, contudo, a busca de um outro programa econômico. E está diretamente associada à chance de reduzir o processo de pauperização, que tem sido aproveitado pela direita para ampliar sua massa de manobra e o discurso de ódio.

“Reindustrializar é básico para enfrentar o fascismo”, acredita Clemente. Na sua avaliação, a extrema-direita se sustenta na classe precarizada, ressentida e revoltada, porque excluída dos direitos e da proteção, até agora restrita às relações formais de trabalho. Por isso, ressalta o ex-diretor técnico do Dieese, a nova organização deve buscar melhoria da estrutura econômica e das condições de vida da população, com a efetiva expansão da base de representação dos sindicatos.

“Temos que ter uma resposta organizacional para esse novo mundo do trabalho, entender quais as lutas serão feitas pelos trabalhadores, e, dessas lutas, derivar a melhor organização para elas. O mundo real precisa de uma resposta nossa”, afirmou o assessor sindical. Na prática, isso pode se traduzir em representar, no mesmo sindicato e na mesma negociação, o professor que é um servidor público e o professor empregado de uma terceirizada – uma prestadora de serviço educacional.

Para Clemente, a resposta para os novos contextos seriam sindicatos que aumentassem o poder de agregação, recepcionando o trabalhador por toda a vida laboral, seja autônomo, contratado de uma ou várias empresas, com uma ou várias profissões. “Tem que ser um sindicato de trabalhadores e trabalhadoras de alta agregação e alta representatividade”, sugeriu.

As mudanças não devem acontecer de forma brusca. A expectativa do sociólogo é que elas ocorram gradualmente, induzidas por políticas públicas e estratégias sindicais. “O central é termos um projeto de transformação, escolhermos os vetores da mudança.”

Em síntese, no entendimento do especialista, a estrutura econômica do país deve implementar produtividade e valor, gerando condições de vida adequadas, levando em conta o contexto global contemporâneo. Isso abrange a transição energética e a questão climática, por exemplo, e os investimentos em tecnologia e inovação. “Em sete anos, mais da metade da produção dos veículos automotores serão elétricos”, exemplificou.

Nos EUA, disse, os parlamentares aprovaram recentemente um orçamento para promover uma nova industrialização, num processo que deve levar décadas. Clemente recomendou aos sindicatos que visitem e estudem experiências de novas organizações sindicais que estão sendo desenvolvidas em países como Espanha, Alemanha, e até nos EUA. O importante, insiste, é começar.

 

FOTO: Grito dos Excluídos, 2022 – Portal da CUT

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