Começa neste sábado (10) o primeiro Curso André Rebouças de Reforço de Cálculo, gratuito, numa realização do Coletivo Força Motriz, formado por estudantes da UFRJ, em parceria com o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ) e o Clube de Engenharia, e apoio da Mútua, caixa de assistência dos profissionais do Crea.
A aula inaugural será às 14h, no auditório do Senge RJ, com a presença do presidente do sindicato, Olímpio Alves dos Santos, do secretário da Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), do historiador David Gomes, especialista em ações afirmativas, e pesquisador do Programa Desenvolvimento e Educação Theotonio dos Santos (UERJ), e de Pedro Monforte, diretor do Senge RJ e integrante do Coletivo Força Motriz, cuja principal linha de trabalho é a democratização da Engenharia.
O curso de reforço em cálculo tem o objetivo de ajudar estudantes a superarem a barreira da disciplina. A extrema dificuldade da matéria, na avaliação de Pedro, mais do que uma demanda acadêmica, revela a natureza racista e classista dos cursos de Exatas e das universidades. Segundo ele, as taxas de reprovação em cálculo variam de 70% a 90% , um índice que atesta o problema estrutural do conteúdo e da pedagogia da matéria.
“As instituições de ensino superior não têm interesse nos alunos com dificuldades; querem os que já são muito bons, uma forma de manter o padrão sem muito esforço”, critica Pedro. “Não fazem nada para manter e incentivar os que não passam de ano. Muitos trabalhos já demonstraram que as matérias de cálculo e de física são as principais razões para desistência na Engenharia.”
Com as ações afirmativas, o processo de exclusão ficou mais evidente, diz o diretor do Senge RJ, que se formou em Engenharia em 2020. Embora os cotistas tenham, em geral, notas superiores às dos demais alunos, muitas vezes as lacunas trazidas do Ensino Médio tornam insuperáveis as exigências do cálculo, avalia Pedro. “Ninguém ensina reprovando; chamo esse processo de pedagogia do fracasso.”
Por isso, explica o diretor do Senge RJ, o curso de reforço homenageia o engenheiro André Rebouças (1798-1880), engenheiro negro que se bacharelou em 1859 em Ciências Físicas e Matemáticas pela Escola Militar da Praia Vermelha, obtendo o grau de engenheiro militar em 1860.
“Fazem parte da sua história de vida e do seu legado a luta abolicionista, por uma engenharia mais popular, a superação do racismo estrutural”, contou Pedro. “Pouca gente lembra, mas ele teve várias iniciativas para incluir um público que não conseguia entrar na Engenharia. Dava cursos para mulheres aprenderem matemática e física.”
Inscrições abertas
O objetivo do Curso de Reforço André Rebouças é ajudar alunos de graduação da Engenharia ou que enfrentam problemas nas aulas ou já reprovaram na disciplina de cálculo. O período letivo vai acompanhar o semestre regular das universidades públicas. A partir da próxima semana (17), as aulas serão sempre aos sábados, em sala do Clube de Engenharia, das 13h às 16h.
A primeira turma terá cerca de 30 alunos, mas as inscrições continuam abertas e podem dar origem a um segundo grupo. Cinco professores voluntários e três monitores se inscreveram no projeto, a maior parte da UFRJ. Terão prioridade no preenchimento das vagas os alunos cotistas de universidades públicas, mas não é obrigatório já estar matriculado. É possível se inscrever no curso para se preparar para as aulas.