A Prefeitura do Rio de Janeiro formalizou, na última semana, um grupo de trabalho para propor um plano de ação para regularização das comunidades da Gringolândia e da Ocupação Povo Sem Medo, no chamado “conjunto de favelas da Ficap”, entre os bairros da Pavuna e Jardim América. O GT tem a participação do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) e resulta de gestões das famílias que moram nas ocupações, apoiadas pelo núcleo de estudantes do Sindicato, o Senge Jovem, junto a outras entidades da sociedade civil.
Criado pela Secretaria Municipal da Casa Civil e já publicado em Diário Oficial, o grupo tem até 26 de dezembro de 2018 para concluir seus trabalhos, que poderão beneficiar 300 famílias, sendo cem delas na Ocupação Povo Sem Medo e 200 na Gringolândia, num total de mais de mil pessoas. Um dos subsídios para o trabalho é o relatório produzido por engenheiros do Senge-RJ, após visita técnica à ocupação Povo Sem Medo (foto abaixo), em junho. Especialistas indicados pelo sindicato avaliaram as condições técnicas das instalações elétricas, do sistema de saneamento e estruturas civis, dentre outros aspectos.
De acordo com Pedro Enrique Monforte, um dos integrantes do Senge Jovem, o núcleo de estudantes do Senge-RJ foi criado no ano passado por alunos da Universidade Federal do Rio de Janeiro que compõem o Coletivo Força Motriz, dedicado ao apoio técnico a moradias populares. Além das duas ocupações na regão do Jardim América e Pavuna, está colaborando com consultoria técnica e jurídica em uma ocupação recente, instalada no mês passado em São Cristóvão, ao lado do Estádio São Januário, por cerca de cem famílias. O Senge Jovem também acompanha as audiências públicas que tiveram as ocupações na pauta e os contatos com parlamentares mobilizados para a atenção com os moradores.
O Coletivo Força Motriz e a atuação do Senge Jovem junto às moradias populares fazem parte de uma ação que responde a uma pergunta básica, explica Pedro Monforte: “Qual o papel social da engenharia”. Nesse sentido, sabendo que a engenharia é “muita valiosa” para o sistema capitalista, o estudante defende uma nova abordagem deste conhecimento: “Queremos uma engenharia libertadora.”
A formação do grupo de trabalho da Prefeitura deriva do entendimento pelo poder público de que os locais ocupados – uma indústria desativada há mais de 30 anos e uma garagem de ônibus abandonada – representam áreas de interesse social. O GT é composto por membros da Secretaria Muncipal da Casa Civil, da Secretaria Municipal de Urbanismo da Secretaria e Infraestrutura e Habitação, da Defensoria Pública do Estado, por vereadores do Rio e representantes de entidades da sociedade civil – além do Senge-RJ, a Coordenação da Ocupação Povo Sem Medo, a Associação de Moradores da Comunidade Gringolândia, as Brigadas Populares, o Centro de Assessoria Jurídica Popular Marina Criola e o Instituto de Terras e Cartografia do Estado do Rio de Janeiro. Foram vários atos, enfrentamentos e mobilizações para a conquista do GT, lembra Pedro.
O Senge Jovem é um canal para renovação de quadros, para fortalecer a luta política da juventude e dos engenheiros em formação. “Incorporar a juventude no Sindicato é uma questão fundamental”, diz Pedro. A iniciativa está articulada a de outros sindicatos ligados à Federação Interestadual dos Sindicatos de Engenheiros (Fisenge), que formalizou, em setembro do ano passado, o Coletivo Nacional de Estudantes, com representantes de 11 estados, durante o 11º Consenge.
Foto: Reunião para criação do GT (21/9/2018)
Texto: Verônica Couto
Texto: Verônica Couto