04 de Setembro de 2023
Mesmo após manifestações diretas da Presidência da República e de ofícios do Ministério das Minas e Energia, a direção da Eletrobrás privatizada segue defendendo a demissão de funcionários para buscar melhores resultados financeiros. O último capítulo da luta dos trabalhadores do sistema elétrico contra os resultados diretos da sanha privatista do Governo anterior se desdobrou no último fim de semana. Omitindo dados e tentando demonstrar controle sobre uma situação que, na realidade, aponta para caminhos cada vez mais caóticos, a Eletrobrás publicou na última sexta-feira, 01/09, um “Comunicado ao Mercado”, apresentando sua versão sobre o caso.
Cerca de duas horas depois da publicação do documento, a justiça fez aquilo que as entidades representativas dos trabalhadores e o Governo Federal – poder concedente e maior acionista – vêm tentando sem sucesso há meses: garantir a suspensão das demissões. A decisão do Ministro Alexandre Agra Belmonte, do Tribunal Superior do Trabalho, vale por 15 dias, durante os quais o Plano de Demissão Voluntária (PDV) de 2023 não poderá ser aplicado. Belmonte considerou os ofícios de Alexandre Silveira, Ministro de Minas e Energia, que apontavam profunda preocupação com os desligamentos frente ao risco de novas panes no sistema e apagões, como o ocorrido em todo o país, em agosto.
Memória técnica perdida
Em boletim publicado hoje, o Coletivo Nacional dos Eletricitários denuncia que os principais pontos apresentados pela direção da companhia ao Mercado são mentiras. Enquanto remunerações milionárias e criação de 17 diretorias são colocadas em prática pela alta cúpula da empresa, segue sendo perseguida a meta de cortes de benefícios e demissões que impactam diretamente na memória técnica da empresa.
Segundo a direção da Eletrobrás privatizada, os cortes de pessoal seguem “avaliação de criticidade das funções desempenhadas pelos trabalhadores desligados” e já houve a contratação de 102 novos funcionários, com planos para a contratação de mais 730 até o final desse ano. O CNE aponta, no entanto, que conhecimentos acumulados por décadas na operação de equipamentos complexos como os do setor elétrico, não podem ser passados a outros profissionais em treinamentos simplistas.
“O grupo que ocupa a direção da Eletrobrás é basicamente o mesmo da época dos governos Temer e Bolsonaro. Tiveram muito tempo para renovar a força de trabalho da empresa e fazer um processo de transferência de conhecimento sério e seguro”, destaca o coletivo. Até o momento, após inúmeras demissões, inclusive por perseguições políticas internas, a transferência de conhecimento não foi priorizada pela companhia.
Fugindo da culpa
Outro ponto que chama atenção no Comunicado ao Mercado é a tentativa de se isentar da responsabilidade pelo apagão de 15 de agosto, apesar de responder por 40% das linhas de transmissão, mais de 2/3 das principais subestações e operar quase que a totalidade das as grandes usinas hidrelétricas do Norte e Nordeste.
O boletim do CNE destaca que, na conclusão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre o ocorrido, a maioria das causas do apagão e dificuldades na recomposição do sistema ocorreu em instalações do grupo Eletrobrás. “O fator humano está diretamente relacionado com as dificuldades elencadas pelo ONS. Nessas horas pesam as demissões e o péssimo clima organizacional estabelecido pela política da mentira, medo e ódio do vice-presidente de Gente e seus asseclas”, destaca o documento. O Coletivo Nacional dos Eletricitários alerta para a urgência do julgamento da ADI 7385, pela ameaça à segurança nacional representada pelas políticas da atual diretoria.
Com dados do CNE
Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil