Primeira mesa discute emprego e engenharia nacional

Debate contou com a participação do economista Marcio Porchmann, do político Roberto Amaral, do engenheiro e contra-almirante Alan Paes Leme, da deputada federal Jandira Feghali e do jornalista Luis Nassif

Com o tema “Emprego e processo produtivo”, a mesa da manhã do I Simpósio SOS Brasil Soberano discutiu como a crise política e econômica causada pelo golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff afeta o emprego e a engenharia nacional. O debate contou com a participação do economista Marcio Porchmann, do político Roberto Amaral, do engenheiro e contra-almirante Alan Paes Leme, da deputada federal Jandira Feghali e do jornalista Luis Nassif.

Marcio Porchmann começou sua fala fazendo uma análise histórica do desenvolvimento brasileiro. Ele contou, por exemplo, que a partir da década de 1920, foi iniciado o processo de industrialização da América Latina. Foi nesse momento que o Brasil conseguiu deixar de ser um país primitivo e se tornou a oitava economia mais rica do mundo. Porchamann, no entanto, frisou que foi um avanço sem pensar nas questões sociais.

“Construímos uma especificidade no Brasil em que o novo avança, mas não acaba com o velho. Uma sociedade muito distorcida. Não temos cidades, temos acampamentos, em cidades sem planejamento”, explica.

Com a crise em 2008, o Brasil alcançou pela primeira vez um protagonismo que nunca havia tido. Esse projeto está sendo destruído pelo governo golpista que tomou o poder em 2016.

“É uma volta ao século passado, antes de 1930. Qual a nossa capacidade de reação e ocupar obviamente as ruas”, questiona. “Qual a nossa capacidade de reação frente a isso? A questão é que não tem saída institucional, não tem saída tradicional. Os que deram o golpe só têm a oferecer resultados negativos. Eles não vão entregar o ossinho. Temos que pensar em saídas fora da saída institucional.”

 

Ciência e Tecnologia

O engenheiro naval Alan Paes Leme foi enfático: política de conteúdo local precisa integrar a tecnologia nacional”. Ele iniciou sua explanação sobre a cadeia produtiva de bens permanente e de consumo. “A engenharia permeia toda a economia e sua cadeia produtiva. O Brasil gera bens e não temos indústria forte. Nós hospedamos indústria”, criticou. Os bens permanentes integram infraestrutura, metais, imóveis, terras, por exemplo. Já os bens de consumo abrangem a alimentação, ferramentas domésticas e serviços.

Uma questão uníssona entre os palestrantes e enfatizada pelo engenheiro foi a defesa da política de conteúdo local. “A nossa política de conteúdo local precisa estar ligada à ciência e à produção tecnológica. Podemos melhorar a infraestrutura e usar a tendência de cluster em cada região, valorização da engenharia e centros de pesquisa”, disse. Cluster é uma estratégia industrial de interligar linhas de produção com tecnologia da informação, logística, pesquisa, ciência e tecnologia, seguindo uma lógica de cooperação regional. O engenheiro defende um plano de industrialização dividido regionalmente, como o modelo da Embrapa com escritórios em diversos locais.

 

Futuro

“O hoje está perdido”. Foi assim que o ex-ministro Roberto Amaral definiu o momento em que o Brasil vive. Para ele, não é possível reconstruir o país a curto prazo, nem do ponto de vista econômico, nem do ponto de vista político.

Em uma profunda análise politica e econômica, Roberto Amaral afirmou que a crise resultante do golpe é um processo político que só tem solução na política. Ele acredita que existem três linhas de atuação fundamentais: resistência, desfazer o que foi feito pelo governo golpista e a reconstrução do Estado.

“Esse encontro é uma linha de resistência . Em 1964, nós lamentavelmente fomos surpreendidos , como governo e como forças populares. No dia 01º de abril nos encontramos sem nenhuma organização de resistência. Hoje temos condições de resistência, de organização, e o fundamental, com condições de reflexão. O maior inimigo da ação política é a práxis sem reflexão”, defende. “Esse golpe não foi pura simples a troca de Dilma por Temer. Não foi apenas uma infração constitucional. Foi tudo isso, mas foi acima de tudo uma mudança de projeto, a implantação de um projeto que havia sido rejeitado nas eleições. Não tem base na soberania popular, não tem legitimidade. E é um governo que está usando a inexistência de apoio popular como mérito porque agora acredita que pode fazer o que quiser”, continou.

A deputada federal Jandira Feghali afirmou valorizar a iniciativa do SENGE-RJ e da Fisenge de construir um espaço de debate. “No momento de tanta criminalização da política a gente ter espaço para debater é muito bom”, afirmou ela. “Valorizo muito essa iniciativa que é em um dos pilares desse novo momento. Se não seremos um Brasil que constrói valores agregados. Que país é esse que construiremos a partir daqui? Ou será apenas de resistência?”

Feghali destacou que a luta contra a reforma da previdência deve ser prioridade. “Estou no congresso desde 1991 e nunca vi nada tão cruel quanto essa reforma da previdência”, criticou.

O jornalista Luis Nassif, sobre a reforma da previdência, disse ainda que “o governo está desmanchando. A reforma da previdência é o decreto de morte de idosos.”

Nassif, no entanto, afirmou estar impressionado com a consciência política da juventude. “Nunca vi uma juventude tão madura e tão antenada”.

 

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