A Associação dos Empregados de Furnas (Asef) enviou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) um novo pedido de esclarecimento, dessa vez sobre as denúncias de que o grupo financeiro 3G Radar, minoritário, manobrou para indicar três dos nove integrantes do Conselho de Administração e também a diretoria, conforme reportagem publicada na Folha de S.Paulo (11/6). Os eletricitários também fizeram ato de protesto nesta quarta-feira (14), na sede da empresa no Rio de Janeiro e na Câmara dos Deputados, pedindo a dissolução do conselho e da direção.
“Pedimos à CVM esclarecimentos públicos sobre as conversas vazadas para a imprensa e a possível influência do grupo 3G na gestão, e também esperamos que os órgãos de controle investiguem a possibilidade de combinações sobre a gestão da empresa estarem sendo feitas fora dos canais formais de governança”, afirma Felipe Araújo, diretor da Associação dos Empregados de Furnas (Asef), que também integra a direção do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ).
Se confirmada a suspeita apontada pela imprensa, diz Felipe, “os órgãos de governança, os reguladores e as instituições de referência, como o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), vão precisar revisitar os parâmetros praticados no Brasil, para encontrar maneiras de fechar brechas como essas e avaliar se há governança efetiva nas corporações, especialmente aquelas que têm sido capturadas por representantes do mercado financeiro”.
A 3G conseguiu dominar os postos de decisão na empresa, embora tenha apenas 0,05% do capital votante (e 1,3% do capital total) da Eletrobras. Mas a União, a maior acionista, com 43%, está obrigada a votar no conselho como se tivesse só 10%. O mecanismo foi incluído no contrato de privatização da holding e está sendo questionado pelo governo federal por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin).
Os áudios transcritos pela Folha de S. Paulo teriam sido gravados em uma reunião interna da Eletrobras, realizada em janeiro, para apresentação do novo conselho de administração. Os conselheiros Vicente Falconi, Felipe Vilela Dias e Ivan Monteiro contam, então, como foram convidados para a empresa pelo sócio da 3G Radar, Pedro Batista de Lima Filho, que também se tornou ele próprio conselheiro, indicado pelos detentores de ações preferenciais. Segundo o jornal, os nomes da chapa, fortemente vinculados ao mercado financeiro, também teriam sido levados em junho de 2022 (cerca de um mês e meio antes de sua eleição ao conselho) aos ministérios da Economia e das Minas e Energia da gestão bolsonarista.
A 3G Radar ganhou notoriedade recentemente por ter entre seus sócios os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, grupo que também estava à frente da Americanas. A gigante do varejo pediu recuperação judicial e tem sido alvo de denúncias de fraude. Nos próximos dias, estão previstos novos protestos contra a manipulação das estruturas de governança da Eletrobras para atender interesses rentistas.
Foto: Asef