Qual a história por trás de cada alimento que você consome?

Camponeses de vários estados do Brasil estão no Rio de Janeiro para participar da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes

Via Brasil de Fato

 

Camponeses de vários estados do Brasil estão no Rio de Janeiro para participar da Feira Estadual da Reforma Agrária Cícero Guedes, que começou nessa segunda-feira (5) e vai até quarta (7), no Largo da Carioca, no centro da cidade.

Além de ser uma oportunidade de ter acesso a alimentos produzidos livres de agrotóxico, sem agredir a natureza e o homem, o consumidor ainda tem a chance de conhecer um pouco mais sobre a origem dos produtos e o que esses alimentos que vêm da terra representam para quem produz.

Dona Samuza Motta, de 43 anos, nasceu e passou a vida toda no campo. De lá trás toda a sabedoria das ervas medicinais, de temperos e plantas ornamentais que purificam o ambiente. “Arruda, por exemplo, é muito boa para cólica menstrual, já a mesma menta é uma erva que purifica o ar e contribuiu para a autoestima, assim como o manjericão, além de ser um tempero que gosto, ele ajuda na oxigenação do ambiente com a vantagem de que ele não precisa de muito sol, então pode ser cultivado em apartamento”, explica a camponesa, que mora no assentamento Zumbi dos Palmares, no município de São Mateus, no Espírito Santo.

Quem compra uma muda ainda ganha as explicações sobre a função de cada planta. O conhecimento farto sobre cada erva que cultiva é resultado de um acúmulo de aprendizado de muitas gerações de sua família. Dona Samuza é uma das 150 agricultoras e agricultores assentados, presentes na feira.

Os braços fortes e mãos calejadas do seu Jessé França, de 73 anos, são o resultado de uma vida inteira dedicada ao cultivo no campo. Ele mora há 20 anos no assentamento da reforma agrária também chamado de Zumbi dos Palmares, no município de Campos de Goytacazes, norte fluminense. Lá ele planta abacaxi, limão, laranja, aipim, milho, abóbora, melancia, cana, manga, mamão, seriguela e quiabo. Mas nem sempre foi assim. Antes de ter seu pedaço de terra, ele trabalhava roçando canavial para a Usina de Quiçamã, um trabalho duro e de baixa remuneração. Hoje, junto com a esposa e o filho, consegue tirar o sustento da terra conquistada com muita luta.

Orgulhoso da sua produção, seu Jessé França só deixa de sorrir quando fala das dificuldades enfrentadas no campo. “A gente não consegue ter acesso a financiamento. Para aumentar a produção a gente tinha que ter um sistema de irrigação, isso ajudaria no cultivo de coco, batata inglesa, feijão e mudas de laranja, principalmente. A falta de transporte para o escoamento da produção e as estradas ruins dificultam muito”, lamenta o camponês.

A falta de políticas públicas para o campo também é alvo de crítica da camponesa Bia Carvalho, de 35 anos, moradora do assentamento Terra Prometida, em Duque de Caxias. “As prefeituras da Baixada Fluminense, como a de Duque de Caxias, declararam área urbana em todo o território, para poder cobrar IPTU. Isso representa uma negação, uma ausência de políticas para nós, que vivemos na área rural. Lutamos pelo direito à escola rural de qualidade e que tenha o conhecimento que nós do campo precisamos. As pessoas reclamam que as áreas rurais do país estão esvaziadas, mas olha todas as dificuldades que encontramos para produzir e morar no campo”, critica a camponesa, que também é da direção estadual do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Histórias e personagens como esses compõe a riqueza de conhecimento e de produção que os agricultores levam para a feira da reforma agrária. Para a professora Josefina Mastropolo, de 40 anos, essa é a oportunidade de comprar produtos orgânicos e a um preço acessível. “No Rio existe muitas feiras orgânicas, mas os preços são muito altos, realmente algo feito para a elite. Aqui nessa feira não, as coisas são mais baratas porque a gente compra direto do produtor. Sem falar que é um espaço agradável, com música e apresentações culturais”, ressalta a consumidora.

A feira também oferece frutas, verduras e grãos sem agrotóxico, assim como produtos naturais como sucos de frutas integrais sem conservantes, shampoo, sabonete, mel, cachaça artesanal, doces caseiros, leite e ovos orgânicos, entre outros. A entrada é gratuita e funciona das 9h às 20h. A feira vai até quarta (7).

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