Queda de juros: lentidão irresponsável do Banco Central atrasa o desenvolvimento do Brasil

A contradição permanece. De volta à lista das dez maiores economias do mundo, com crescimento sustentável e inflação sob controle, o Brasil fecha o ano de 2023 com mais um corte ínfimo na maior taxa de juros reais do planeta – posto reassumido em novembro deste ano – e sexta maior taxa nominal (que desconsidera o desconto da inflação).

A última reunião de 2023 do Comitê de Políticas Monetárias (Copom) do Banco Central (BC) para definir o patamar da taxa básica de juros, nos dias 12 e 13 de dezembro, determinou, mais uma vez, o corte de 0,50 ponto percentual na Selic, agora em 11,75%. É quase nada em um cenário de crescimento econômico projetado em 0,9% em abril e reajustado para 3,1% após uma expansão acima das expectativas no terceiro trimestre.

As projeções vêm se mostrando realistas e a alta acumulada já é de 3,2% no ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior patamar da série histórica, 7,2% acima do nível pré-pandemia, nos três últimos meses de 2019.

O ciclo de cortes iniciado em agosto tem sido marcado pelo lento afrouxamento da política monetária contracionista, que promove a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB) e do consumo. O impacto é direto na economia e na política de investimentos do governo que, uma vez eleito, foi impedido de colocar no BC nomes alinhados ao seu planejamento econômico, fato inédito na história do país.

Pressão dos trabalhadores

Os movimentos dos trabalhadores seguem na luta por uma queda mais acelerada da Selic, que está estimada em 9,25% apenas para o final de 2024, alcançando um patamar de 8,5% ao ano apenas no fim de 2025 e 2026. As projeções, que colocariam o país no ainda elevadíssimo 8o lugar do ranking de juros nominais do mundo, são insuficientes para a construção de um Brasil que cresce atento às necessidades do seu povo.

“A Selic elevadíssima reflete nas taxas de juros cobradas pelas instituições financeiras no crédito, prejudicando o investimento produtivo, atrapalhando a economia e encarecendo a vida de todos nós. Além disso, aumenta a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos da dívida pública”, explica a presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Juvandia Moreira.


Dívida pública

Os beneficiados com a manutenção de altas taxas de juros seguem os mesmos: os detentores de títulos da dívida pública, em sua maioria, os 10% mais ricos do país. Do outro lado está o governo, obrigado a colocar um montante vultuoso de recursos no pagamento dos juros da dívida pública, também baseada na Selic. Com o corte desta semana, a dívida cai em 23 bilhões, que passam a estar disponíveis no orçamento para investimento no país.

“Em agosto de 2023, por exemplo, o gasto do Governo Federal com juros da dívida chegou a R$ 689 bilhões em doze meses (quase 20% a mais do que nos doze meses anteriores). Esse valor representa quase 2 vezes o gasto previsto para todo o ano de 2023 com Bolsa Família (R$ 145 bilhões), com a Farmácia Popular (R$ 2 bilhões), Minha Casa Minha Vida (R$ 9,7 bilhões), Educação (R$ 11,2 bilhões) e Saúde (R$ 182,6 bilhões). Ou seja, com a redução dos juros o Estado teria um orçamento muito mais justo e equilibrado, beneficiando a economia como um todo e quem realmente precisa: a sociedade e especialmente das famílias que mais dependem de políticas públicas”, explica a economista da subseção do Dieese na Contraf-CUT, Vivian Machado, em entrevista ao Brasil de Fato.

Mantendo a meta de déficit zero como objetivo, a equipe econômica do governo cobra celeridade do BC. Em reunião com o Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República, o “Conselhão”, Fernando Haddad repetiu o que vem declarando desde novembro: há espaço para uma queda mais acentuada nos juros.

“Nós devemos terminar um ano com quase 2 milhões de empregos gerados. Não temos nenhuma razão para acreditar que o ano que vem será pior. A taxa de juros começou a cair poucos meses atrás e ainda temos gordura na política monetária. Nossa taxa real está muito distante do segundo colocado”, declarou o ministro. 

O Copom volta a se reunir em 30 e 31 de janeiro. Por enquanto, nada aponta para uma queda mais elevada na taxa de juros nos próximos meses, ainda que a manutenção da política de contracionismo há meses não encontre motivos na realidade calcada pelos bons resultados da economia.

Já em fevereiro, o presidente Lula destacava a importância de um posicionamento mais realista do BC: “O problema não é de um banco independente ou ligado ao governo. O problema é que este país tem uma cultura de viver com juros altos, que não combina com a necessidade de crescimento que nós temos”, declarou o presidente.

 

Edição: Rodrigo Mariano/Senge RJ
Com informações da Agência Brasil, CUT, IBGE e MoneYou
Fotos: Rafa Neddemeyer/Agência Brasil (destaque); CUT/Reprodução; Marcelo Casal Jr./Agência Brasil; Marcelo Camargo/Agência Brasil

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