Reflexões sobre o vermelho nas cores das bandeiras no planeta Terra | Henrique Luduvice

Por Henrique Luduvice*

Os brasileiros, sem exceção, têm o direito de se orgulhar quando vestem indumentárias que destacam o verde, amarelo, azul e branco da bandeira deste País. Acrescente-se, inclusive, que a nenhum grupo específico de nacionais é concedida a prerrogativa de se apropriar isoladamente das cores do pavilhão que nos identifica como Nação.

Registre-se, porém, que em determinadas manifestações públicas, no auge das exacerbações políticas, alguns grupos proclamam, muitas vezes em altos brados e com conotações ideológicas, que o lábaro estrelado do Brasil, além de representá-los de forma quase exclusiva, jamais será vermelho. Desprezam, liminarmente, além de uma emblemática história, os diversos contextos locais e internacionais em que o País sempre esteve inserido.

Há nesses atos, muitas vezes, uma indução que visa confundir e desvirtuar o real significado de tal coloração que, integrada ao azul e ao amarelo compõem, na teoria dos pigmentos, as três cores primárias, das quais, aprende-se nas escolas, derivam-se todas as demais.

Necessário se faz, de imediato, realçar que nas onze primeiras bandeiras que distinguiram o Brasil após o desembarque dos portugueses de suas caravelas no ano de 1500, o rubro encontrava-se presente de forma sublime e proeminente. E sem contestações. As sucessivas alterações ocorridas naqueles períodos foram emanadas, naturalmente, por iniciativas do Império português ou sob influência daqueles que o dominaram durante a época colonial.

Ressalte-se que mesmo após o alcance da independência há 201 anos, no já longínquo 07 de setembro de 1822, os Impérios comandados respectivamente por D. Pedro I e D. Pedro II, mantiveram este conceito, respeitando a tradição, até então, vigente.

Portanto, apenas a partir de 15 de novembro de 1889, data da Proclamação da República, e nas duas bandeiras subsequentes a este fato histórico, as cores verde, amarelo, azul e branco se impuseram no pendão que notabiliza o Brasil. A primeira, que teve vigência de somente quatro dias, foi posteriormente substituída pela atual, que nos exprime como Nação desde 19 de novembro daquele ano, e vem sendo devidamente respaldada pelos subsequentes textos constitucionais, incluindo o último, promulgado em 1988.

A esta altura, faz-se importante adendar que a maioria dentre as 195 Nações reconhecidas pela ONU (entre países membros e observadores), e as demais (recepcionadas pelo COI nas Olimpíadas), com as quais o Brasil se relaciona nos campos institucional, comercial e esportivo, exibe com orgulho o colorado em seus símbolos. E, consigne-se, que tal realidade se reproduz independentemente dos sistemas de governo desses países, nos vários continentes do Planeta Terra.

Verifica-se, adicionalmente, que, em geral, o vermelho exibido nas bandeiras simboliza guerras ou lutas em busca de autonomia, emancipação, liberdade e desenvolvimento. De forma singular, o amor, o fogo, a paixão. Tal cor se caracteriza ainda, nessas flâmulas e estandartes, por retratar ação, coragem, energia, força, poder, sangue ou vitória na perseguição de objetivos compartilhados por cidadãos, povos e civilizações.

Em raras situações, este fato esteve relacionado a governanças e regimes implantados, ou mesmo a quaisquer vieses políticos de instituições em eventuais comandos desses Estados.

A afirmativa antecedente assume contornos extraordinários quando se observa que três Nações da América do Norte, a saber Canadá, EUA e México, além da Groenlândia, região autônoma vinculada ao Reino da Dinamarca, estampam o encarnado em seus pavilhões. Na América Central o fazem, em meio a outros, Belize, Costa Rica, Cuba, Haiti, República Dominicana, Panamá, Trinidad e Tobago.

Na Europa, incluindo os mais recentes desdobramentos territoriais, distingue-se, a título de ilustração, a Áustria, Alemanha, Bélgica, Eslovênia, Eslováquia, Espanha, França, Holanda, Hungria, Inglaterra e Itália. E, ainda, Luxemburgo, Mônaco, Montenegro, Portugal, Polônia, República Tcheca e Suíça. No ambiente rotulado como escandinavo, Dinamarca e Noruega. Complementarmente, percebe-se que o mesmo acontece na Rússia, que se espraia por dois importantes continentes.

Na África, fração considerável daquelas sociedades adotaram o rubro, algumas em razão do passado colonial europeu, evidenciando-se a África do Sul, Angola, Chade, Egito, Etiópia, Gana, Guiné, Libéria, Madagascar, Mali, Marrocos, Moçambique, Quênia, Tunísia, Uganda, Zimbábue, entre tantos. Na Oceania, pode-se citar exemplos como Austrália, Fiji, Guam, Nova Zelândia, Polinésia, Samoa, Tuvalu e Vanuatu.

Na Ásia, é possível mencionar Azerbaijão, Bangladesh, China, Coréia do Sul, Filipinas, Geórgia, Iran, Iraque, Indonésia, Japão, Kuwait, Laos, Mongólia, Nepal, Qatar, Tailândia, Taiwan, Turquia e Vietnam. Outros poderiam se somar a esta lista.

A América do Sul expõe, em suas veias abertas, uma contundente comprovação: neste espaço do planeta, apenas a Argentina, o Brasil e o Uruguai não contêm o colorado em seus pendões. Todos os vizinhos, limítrofes ou não, vide Bolívia, Colômbia, Chile, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela, bem como o território da Guiana Francesa, introduziram a citada cor em seus estandartes.

Finalizando, evidencie-se que este Artigo pretende compartilhar conteúdos e informações que propiciem debates em elevado nível, disponibilizando mais luzes sobre o tema em tela. Afinal, estudos demonstram que o vermelho se encontra na história de inúmeras Cidades, Estados ou Países, independentemente das teses ou ideologias em evidência ao longo dos atinentes percursos. O texto visa, também, contribuir para que certos padrões de ignorância ou agressividade não sejam bússolas a guiar manifestações e pronunciamentos públicos de parcelas das populações. De qualquer País, inclusive, do Brasil.

 

*Henrique Luduvice, engenheiro civil, ex-presidente do Crea-DF e ex-presidente do Confea
Foto: DALL-E / Edição: Rodrigo Mariano

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