Renovação sindical é palavra no terceiro dia

Mudança na linguagem e entendimento das demandas da juventude são estratégias

Mudança na linguagem e entendimento das demandas da juventude são estratégias necessárias para que os sindicatos incluam os trabalhadores do futuro.

“O sindicato precisa acolher a juventude”. “A linguagem que o movimento sindical utiliza hoje é defasada, não atrai os jovens. O que a juventude quer é agilidade e objetividade”. “Quando o mundo do trabalho se tornar parte da vida dos jovens eles irão ao sindicato, mas é necessário criar mecanismos de atração”.

Renovar, reciclar, reinventar foram as palavras de ordem na plenária da manhã desta sexta-feira, 29, do 10º Consenge, que abordou o “O Papel do Movimento Sindical Frente às Modificações do Mundo do Trabalho”. As afirmações do início deste texto, feitas pelos palestrantes no encontro, confirmam que mudar o foco na rotina sindical mais que uma tendência é uma necessidade urgente.

Para o secretário nacional de Previdência, Aposentadoria e Pensionistas da CTB, Pascoal Carneiro é necessário oxigenar a estrutura dos sindicatos com a abertura de espaço para os jovens. “O movimento sindical está com seus velhos conceitos, só reivindicatórios. Precisa ter reivindicação, ter projeto de sociedade, mas, acima de tudo, o sindicato tem que ser o espaço da juventude. É necessário acolher a juventude e trazer para todos os sindicatos toda aquela vida leve e brincalhona que existe na juventude. É preciso que o movimento sindical se abra para isso e os sindicatos precisam ter espaços de lazer, de recreação, de cultura, esporte e cursos preparatórios para jovens, filhos de trabalhadores, que não têm acesso a boas escolas nesse país.”

Adalberto Moreira Cardoso, doutor em sociologia pela USP e professor do instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ, considera que enquanto a legislação trabalhista brasileira obrigar a negociação coletiva os sindicatos não irão morrer, porém, é preciso que estejam atentos às demandas dos jovens.

“O mundo do trabalho é uma parte importante na vida das pessoas, mas não é o ponto central na vida da maioria dos jovens. Os movimentos de junho de 2013 foram liderados por jovens, em sua maioria, aqueles que estão estudando, ou estudando e trabalhando. Que estão com uma espécie de frustração de expectativas. Essa juventude quer mais, porque o seu horizonte é mais amplo. E essa pauta, que coloca em discussão o horizonte na vida das pessoas, não é a dos sindicatos”, observa.

Cardoso lembra que quando os jovens entrarem no mercado de trabalho, obrigatoriamente, terão que levar em conta a participação dos sindicatos na sua vida produtiva. “Essa juventude virá para o sindicato mais adiante. A renovação dos sindicatos passa pela constituição de representações por local de trabalho, oferta de infraestrutura de lazer, esportes. Fazer do sindicato um espaço de convivência que contemple outras dimensões da vida dos trabalhadores.”

Para Junéia Batista, secretária nacional de saúde do Trabalhador da CUT, é necessário que o movimento sindical mude a forma de abordagem para atrair novos quadros. “A classe trabalhadora do futuro está sendo forjada hoje nas universidades. É necessário incentivo, patrocínio para atrair os jovens em formação e tratar das demandas da juventude. O jovem quer agilidade e objetividade. Se não adequarmos a linguagem vamos aprender perdendo para depois nos reciclar”, observa Junéia.

Receita da conquista – Clécio Santos, diretor do Senge Estudante da Bahia, defende que o sindicato esteja próximo das universidades e dos “calouros” desde o início dos cursos. “O sindicato precisa estar já na recepção dos calouros. Isso é muito importante para que o estudante tenha consciência da sua categoria, classe que fará parte e que se organize para lutar. O que vemos hoje no Brasil é uma negação da política e dos sindicatos que faz com que os estudantes e profissionais recém-formados pensem que têm que se virar por si para conquistar os seus objetivos. Sabemos que isso não é assim. A luta sindical é importante e a organização das categorias também. A forma que os sindicatos podem auxiliar é estar presente nas entidades estudantis, centros acadêmicos e diretórios de estudantes ajudando na organização das semanas de engenharia e seminários, entre outras atividades, que estimulem essa visão crítica e consciente da atividade profissional”.

Para Santos, que é estudante de engenharia da computação da Universidade Federal da Bahia, com a aproximação entre as partes é possível trabalhar pautas conjuntas. “A implantação de escritórios públicos de engenharia nas universidades para o atendimento à população carente é uma pauta que o movimento sindical trouxe para o movimento estudantil. Temos muitas discussões sobre as liberdades individuais, questões de etnias e gêneros são contribuições que os estudantes podem levar ao movimento sindical e este trazer para o debate as questões da luta de classes e contra o capital que têm se perdido muito no movimento estudantil”.

O 10º Consenge, que está sendo realizado na cidade de Búzios (RJ),   segue até este sábado 30. Participam do evento perto de 400 profissionais de engenharia e agronomia de 12 estados brasileiros.

 

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