Tem sido prática recorrente nas redações de alguns dos grandes veículos de mídia: Resultados negativos são atribuídos ao governo Lula-3 nas manchetes, linhas finas e primeiros parágrafos. São esses que 83% das pessoas leem antes de repassar as notícias, segundo pesquisa da Research and Politics. Do meio para o final do texto vem a explicação daquilo que causou o resultado noticiado. Às vezes, nem isso.
Na última segunda-feira foram divulgados os resultados das contas públicas de 2023. O rombo de R$ 230,54 bilhões foi noticiado como o maior da história e comparado ao resultado do último ano do governo Bolsonaro, um saldo positivo de R$ 54,1 bilhões. O que aparece pelo meio do texto é o fato de que, em 2020, o déficit primário bateu os R$ 743,25 bilhões e que essa conta foi rolada, ano após ano, até chegar a 2023.
Dessa dívida, uma herança maldita da gestão errática do governo Bolsonaro durante a pandemia da covid-19 e da política econômica neoliberal de Paulo Guedes, quase metade, R$ 116,15 bilhões, são referentes ao pagamento de precatórios – dívidas do governo com sentença judicial definitiva – parcelados ou adiados após emenda constitucional em 2021.
Buscando equacionar a dívida, o governo Lula, que poderia deixar o problema para o próximo presidente, em 2027, decidiu assumi-la, evitando um rombo ainda maior no futuro, como explicou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad: “O governo priorizou no primeiro ano passar a régua neste legado tenebroso de desorganização das contas públicas”.
Outra parte do calote dado por Bolsonaro se refere ao ICMS, tomado dos governadores na véspera das eleições para baixar o preço dos combustíveis.
Fatos e “notícias”
A falha em alcançar a meta estabelecida pela Fazenda, de fechar o ano com déficit de 1% do PIB, também foi destaque. A equipe econômica, em novembro, antes do pagamento do calote, estimava a possibilidade de um déficit de 1,3%. Após pagar as contas de Bolsonaro, o resultado das receitas, menos as despesas, sem considerar o pagamento dos juros da dívida pública ficou em 2,1% do PIB.
“Haddad falhou” é o que destacam as manchetes, mas as contas mostram outro cenário, bem menos noticiado. Sem a antecipação do pagamento dos precatórios o déficit teria sido de 138,1 bilhões, equivalente a 1,3% do PIB. Sem o socorro financeiro de cerca de R$ 20 bilhões para os estados e municípios, cairia para R$ 117,2 bilhões, 1,1% do PIB, cerca de 0,1% a mais que a meta estabelecida por Haddad.
Apesar da quitação dos precatórios, o déficit ficou dentro da meta de R$ 231,5 bilhões para o Governo Central estabelecida pela Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) do ano passado. O que extrapolou, e muito, foi a parcialidade de veículos que se dizem isentos. E não é novidade. Em novembro de 2023 o Jornal Nacional noticiou um rombo de R$ 5,6 bilhões nas contas das empresas estatais brasileiras em 2023.
A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, precisou vir a público esclarecer que o valor se referia a investimentos com recursos que as empresas já tinham em caixa.
Pelo X/Twitter, a deputada Gleisi Hoffmann (PT/PR) criticou a postura da mídia no caso. “O que esse pessoal queria? Mais maquiagem de contas? Mais calote? O mais impressionante é que eles criticam o déficit inevitável e contas transparentes, ao mesmo tempo em que defendem a manutenção de privilégios fiscais para 17 setores, incluindo o de comunicação, que provocam rombo bilionário na Previdência”, apontou.
Redação: Rodrigo Mariano/Senge RJ
com informações da Agência Brasil e PT
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