Segunda edição do “Soberania em Debate” discute importância da tecnologia

Participaram do encontro Guilherme Estrella, geólogo que chefiou a equipe que descobriu o pré-sal; Alan Paes Leme, contra-almirante e engenheiro naval; José Carlos de Assis, jornalista e economista; e Ubiratan Félix, presidente do Senge Bahia

O futuro do Brasil foi o tema principal da segunda edição do Soberania em Debate, realizado na noite de quarta-feira (26). O encontro faz parte do II Simpósio SOS Brasil Soberano, realizado nesta quinta-feira (27), em Salvador. Os participantes do debate frisaram a importância de produzir tecnologia no país para garantir a soberania e o desenvolvimento. Participaram do encontro Guilherme Estrella, geólogo que chefiou a equipe que descobriu o pré-sal; Alan Paes Leme, contra-almirante e engenheiro naval; José Carlos de Assis, jornalista e economista; e Ubiratan Félix, presidente do Senge Bahia.

Ubiratan Félix explicou que o Brasil abriu mão de produzir tecnologia por causa de um viés ideológico. Segundo ele, não foi um viés econômico porque não há argumento para isso ser feito. Para o engenheiro, produtos estratégicos, como água, energia e petróleo, não podem ser considerados apenas como mercadorias, justamente por sua importância para o desenvolvimento tecnológico e social.

 

Setores estratégicos

Líder da equipe que descobriu o petróleo na camada pré-sal, em 2006, o geólogo Guilherme Estrella criticou o desmonte da Petrobrás e afirmou que, como o petróleo e o gás natural continuam sendo a principal fonte energética do planeta, o setor é estratégico para a soberania nacional. Para ele, o argumento de que o Brasil não tem tecnologia para explorar os campos na camada pré-sal é falso.

“A necessidade de desenvolver tecnologia é o filé mignon porque é no desenvolvimento de tecnologia que ocorre o desenvolvimento do país. Cria emprego, políticas públicas, mantém as nossas empresas funcionando. O investimento retorna ao povo brasileiro de diversas formas”, explicou.

De 2002 a 2014, a Petrobras saltou de 3 mil trabalhadores para 85 mil, reestruturando todo o parque da indústria naval. Este avanço também aconteceu no estímulo à produção tecnológica por meio de engenharia brasileira. O pré-sal foi descoberto graças ao investimento em tecnologia local com excelência em engenharia. A Petrobrás desenvolveu projetos de perfuração que permitiram atravessar a camada de sal. Um exemplo é o primeiro poço perfurado para buscar petróleo no pré-sal, o Parati, em 2005. O processo demorou mais de um ano para ser concluído. Para a extração de petróleo, a grande dificuldade tecnológica relaciona-se menos à profundidade do que à instabilidade da camada de sal. Embora a empresa já possuísse vários poços de extração de petróleo em águas profundas e dominasse essa tecnologia, com o pré-sal foi a primeira vez que foi necessário travessar uma camada salina menos dura do que a rochosa, mas também menos estável. A tecnologia pioneira foi desenvolvida em parceria com o Núcleo de Transferência de Tecnologia (NTT) da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que há anos trabalha em parceria com a Petrobrás.

Estrella frisou ainda que o governo deve pensar estrategicamente ao realizar qualquer tipo de transação comercial envolvendo setores essenciais. No caso do petróleo, o valor de um barril produzido no exterior pode ser mais baixo que o produzido no Brasil. No entanto, “trata-se de uma decisão estratégica de não depender de importação de insumos necessários para o desenvolvimento do Brasil.”

 

Conteúdo local

Alterada no dia 22 de fevereiro pelo governo federal, a política de conteúdo local foi reduzida em 50%. Essa política é considerada um instrumento de defesa da soberania do país, de geração de emprego e renda e fortalecimento da indústria brasileira. A energia não é uma mercadoria, mas um insumo estratégico.

Além da energia, o contra-almirante e engenheiro naval Alan Paes Leme destacou que a área de defesa também é estratégica. Por isso, é fundamental usar equipamento de defesa desenvolvido no próprio país para que outros não saibam como ele funciona. Na Guerra das Malvinas, a Argentina usou equipamento francês e a Inglaterra exigiu que a França mostrasse como funcionava. Oficialmente, o país nega que tenha fornecido qualquer tipo de informação. No entanto, Paes Leme afirmou que a Inglaterra sabia exatamente como quebrar a defesa argentina.

“O desenvolvimento de tecnologia aumenta o padrão de qualidade industrial, dando competitividade, e apresenta novas soluções, novas tecnologias. A tecnologia militar tem a capacidade de conduzir a tecnologia em outras áreas. É o caso, por exemplo, do micro-ondas e da internet, descobertos inicialmente para serem usados como tecnologias militares”, contou o engenheiro.

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