SENGE-RJ inaugura busto de Rubens Paiva

Evento foi realizado na última sexta-feira (12) em frente à antiga sede do DOI-CODI
Foto: Claudionor Santana
Da esquerda para a direita, Darby Igayara (CUT), Luiz Cosenza e Olímpio Alves dos Santos, presidente do SENGE-RJ

 

O Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro (SENGE-RJ) e a Federação Intersindical de Sindicatos de Engenheiros (FIsenge) inauguraram, na última sexta-feira (12), o busto em homenagem ao engenheiro e deputado Rubens Paiva, morto pela Ditadura Militar. O busto foi posicionado à frente do prédio onde funcionava o DOI-CODI no Rio de Janeiro, na Praça Lamartine Babo, na Tijuca. Hoje, funciona no local o 1º Batalhão da Polícia do Exército.

O presidente do SENGE-RJ Olímpio Alves dos Santos, explicou a razão de se homenagear Rubens Paiva no local.

“Não é uma provocação. É apenas o resgate da memória, para que ela fique sempre presente naqueles que fizeram isso, e naqueles que não sabem o que foi isso. A estátua não está de frente para o Batalhão por nenhum motivo especial. Não recebemos nenhuma pressão do Exército e também não iríamos nos curvar a nenhuma pressão. Esperamos apenas que as Forças Armadas tenham a coragem de limpar essa mancha na sua história, para que não haja conivência e repetição.”

O diretor do SENGE-RJ Marco Antonio Barbosa, bastante emocionado, citou Nelson Sargento ao dizer que ainda não existe no dicionário uma palavra para descrever o que estava sentindo no momento.

“Fazemos certas coisas na vida que ficam para sempre. Tenho muito orgulho de ter feito parte dessa homenagem. Nossa geração tem a obrigação de manter viva na memória essa história”, defendeu.

A filha mais velha do deputado, Vera Paiva,  se disse arrepiada com o evento, especialmente no momento em que foi colocado o áudio do discurso que Paiva fez para a Rádio Nacional de São Paulo, no dia do Golpe.

“Há mais de quarenta anos que não ouvíamos a voz do meu pai”, disse ela. No discurso, Paiva defendeu a legalidade do presidente João Goulart e chamou o povo para apoiar o projeto popular de Jango, por um país mais justo, que desse ao povo brasileiro uma paricipação na riqueza nacional ao invés de privilegiar uma minoria.

“É como se a gente tivesse finalmente um lugar para homenageá-lo. Agora eu tenho um lugar onde posso trazer flores. Essa experiência de quem tem familiar desaparecido é a dificuldade de encerrar esse ciclo de luto”, disse Vera.

Nelson Rodrigues Filho, que foi torturado no local durante a Ditadura, também se disse emocionado com a homenagem.

“Devemos sempre relembrar o que aconteceu neste local durante aqueles anos, para que não se repita”, afirmou.

Rubens Paiva foi eleito deputado federal em 1962, por São Paulo, na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Após o discurso para a Rádio Nacional, foi caçado e se exilou por nove meses. De volta ao Brasil, retomou a atividade de engenheiro,  no Rio de Janeiro, sem abandonar a resistência à ditadura e o apoio a exilados políticos. Foi preso em 20 de janeiro de 1971 e nunca mais foi visto. A esposa e a filha mais velha foram levadas para o DOI-CODI um dia depois, mas não viram Rubens Paiva. Além do busto, também foi montada uma exposição que lembrou a trajetória política e profissional de Rubens Paiva, com a curadoria de Vladimir Sacchetta. O busto foi feito pelo artista plástico Edgar Duviver.

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