Repúdio não é suficiente para expressar como as lideranças e a militância do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro receberam a notícia de que nosso diretor de Negociações Coletivas, Felipe Araújo, estava entre as vítimas da instrumentalização da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) por parte do governo Bolsonaro, para espionar cidadãos brasileiros cuja atuação política e social impunha um desafio aos objetivos sórdidos da quadrilha que se fez governo por força do medo e da desesperança do povo brasileiro.
Surpresa também não expressaria nossa consternação. Da campanha ao último ato do governo Bolsonaro, denunciamos o que havia de mais óbvio no DNA de suas ações, discursos e visão de país: o fascismo. A espionagem da ABIN é a história se repetindo como farsa, uma marca indelével de uma direita que, dita democrática, não se furta a criar as condições para o autoritarismo e usá-lo como botão de emergência sempre que o liberalismo entra em crise.
Araújo era, e ainda é – como todo o SENGE RJ – uma voz ativa contra o ato de lesa-pátria representado pela entrega da Eletrobras ao mercado financeiro. Definitivamente não nos surpreende que nosso dirigente tenha entrado na mira do próprio Bolsonaro, do diretor da ABIN, Alexandre Ramagem, e de seus comparsas, que certamente se frustraram ao não encontrar em suas comunicações particulares nada além do que ele já denunciava publicamente.
Mas embora não haja surpresa e o repúdio não alcance, é impossível não sentir verdadeiro nojo sobre o ocorrido, e lidar com o inevitável amargor de saber, agora com certeza, que em um sistema democrático, fosse possível invadir a privacidade e monitorar a militância daqueles que exerciam o inalienável direito de oposição a um governo de terra arrasada.
Em meio a esse mar de abusos e violações de direitos fundamentais, reconhecemos que a ABIN “paralela” não se equivocou quando afirmou que nosso diretor estava entre os que “remavam contra ações governamentais, em função de posicionamentos políticos e ideológicos”. Sim, ele estava. Nós estamos e estaremos sempre, como estivemos ao longo de nossa história desde a redemocratização do país. Acertou, também, ao caracterizar a atuação dos dirigentes como “mais vermelha que sangue”. Porque se a luta do povo trabalhador é vermelha, se o sonho de um Brasil menos desigual, de uma Eletrobras pública a serviço de seus verdadeiros donos – cada brasileiro e brasileira – é vermelho, então é exatamente isso que somos: mais vermelhos que o sangue, uma esquerda sem medo de dizer seu nome.
O relatório da Polícia Federal tornado público pelo ministro Alexandre de Moraes evidencia a urgência por reparação. Não só aos espionados, como Felipe Araújo, Victor Costa e Leonardo Pessoa, dirigentes da Associação dos Empregados de Furnas (ASEF), mas ao povo brasileiro, que perdeu o controle de um de seus bens mais preciosos, construído por gerações de trabalhadores e trabalhadoras, por servidores públicos hoje perseguidos por uma diretoria que representa um grupo com pouco mais de 1% de ações e que visa apenas o lucro.
Denunciamos a evidente ilegalidade em uma privatização que, para ser efetivada, precisou de espionagem para monitorar os que “remavam contra”. Se já era óbvio o crime, tantas vezes denunciado pelo próprio presidente Lula, pelo Senge RJ, pela ASEF e todos os sindicatos e intersindicais do Coletivo Nacional dos Eletricitários – CNE desde 2017, agora é mandatório que façamos justiça e revertamos a entrega da Eletrobras, hoje nas mãos de quem alimenta seus próprios cofres às custas do povo brasileiro.
O Senge RJ é um sindicato com um longo histórico de luta intransigente por uma democracia verdadeiramente popular, livre do autoritarismo e das amarras que o grande capital teima em impor por todas as vias que alcança com seus tentáculos. Quanto a Bolsonaro, Ramagem e cada um de seus cúmplices, exigimos que sejam punidos de forma exemplar e que este ajuste de contas inaugure, finalmente, um tempo de liberdade para o povo trabalhador e de responsabilização dos que rasgam a Constituição cidadã e ameaçam o Estado Democrático de Direito.
Ao nosso diretor de Negociações Coletivas, Felipe Araújo e aos demais espionados, toda a nossa solidariedade e apoio.
Seguiremos juntos na luta, sem medo. E mais vermelhos que sangue.
A Diretoria