Senge RJ segue ao lado de estudantes da UFRJ na luta contra o racismo e o elitismo

Curso André Rebouças carrega o legado de luta do histórico engenheiro negro contra o racismo, mais necessário e atual que nunca no enfrentamento de desigualdades estruturais no Brasil de hoje

O Novembro Negro é importante para o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge RJ). É um tempo em que a sociedade se volta ao combate ao racismo, que, no Senge RJ, está entre as pautas prioritárias o ano todo. É assim pelo entendimento de que a luta pela eliminação da maior mazela do país, que se confunde com a própria luta dos trabalhadores, é uma batalha que, até que seja ganha, seguirá inviabilizando um Brasil igualitário e justo.

É no Curso André Rebouças, realizado em parceria com o Coletivo Força Motriz (CFM), que o sindicato materializa sua participação nesta luta. Sustentado por um tripé formado pelos estudantes do Centro de Tecnologia da UFRJ reunidos no Coletivo Força Motriz, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e entidades da engenharia fluminense, o curso é pensado para estudantes cotistas e periféricos das engenharias da UFRJ, mas recebe todos os alunos interessados, mesmo de outras universidades. O recorte social e racial, no entanto, segue sendo o fio condutor do projeto.

Inspirados no patrono que dá nome ao curso, André Rebouças, os alunos e alunas se dedicam a promover eventos de conscientização que caminham lado a lado com o reforço em Cálculo, matéria com altos níveis de reprovação, principalmente entre os estudantes cotistas. O coordenador geral do Curso André Rebouças e diretor do Coletivo Força Motriz, Levi Neto, aponta que, como Rebouças, que no século XIX enfrentou o racismo de frente, frequentando meios onde a cor da sua pele era vista como marca de inferioridade, o Curso André Rebouças busca evidenciar e combater o racismo também em território elitista e majoritariamente branco: as universidades.

“O primeiro engenheiro negro do Brasil não teve só a coragem, mas também a capacidade de se colocar em uma posição que lhe permitiu desenvolver obras que só admitiam homens livres. Transitou em ambientes extremamente elitistas e racistas e, mesmo sabendo que aquilo colocava um alvo em si mesmo, combateu o racismo nesses espaços”, explica Levi.

Elitismo nas universidades

Muita coisa mudou do império para cá. Mas o racismo seguiu onde estava: nas bases da sociedade brasileira, inclusive na academia. Espaço historicamente ocupado por filhos das elites nacionais, os cursos de engenharia passaram por uma mudança de perfil com as políticas de cotas em vigor desde 2012, quando foi sansionada pela presidenta Dilma Rousseff, em resposta a reivindicações dos movimentos negros. A evasão, no entanto, segue elevada. Segundo pesquisa da UFRJ, de 2023,  a taxa de sucesso dos estudantes brancos do CT/UFRJ é o dobro da dos estudantes negros. O Coletivo Força Motriz e o Senge RJ trabalham para mudar esta realidade.

“Buscamos, primordialmente, entender como o racismo funciona, se difunde e se mantém alojado dentro das engenharias. Obtemos esse entendimento no convívio direto com as pessoas que sofrem com o preconceito racial diariamente, ou seja, a população negra do Centro de Tecnologia, boa parte dela organizada em torno do Coletivo Força Motriz. O curso também nos coloca em contato com alunos negros e periféricos de toda a UFRJ. A partir dessas vivências, identificamos como o racismo se difunde e buscamos criar ações para combater essas experiências. Promovemos eventos voltados para a conscientização, para que as pessoas estejam cada vez mais atentas a como isso se dá, como o racismo está presente nos diferentes meios, e mesmo sobre como as pessoas são racistas, muitas vezes sem perceber, em suas falas, ou na forma de pensar”, destaca Levi.

Para além dos muros das universidades, o racismo fica ainda mais evidente: nas empresas, nas associações, nos sindicatos, no conselho fica claro que a engenharia, ainda hoje, é majoritariamente branca e de classe média. 

“As experiências que tive com engenheiros formados demonstraram que a categoria é formada por pessoas majoritariamente brancas. Qualquer aluno que visa cursar engenharia, ao imaginar um engenheiro, pensa em uma pessoa branca. Porque, certamente, os engenheiros que ela conheceu na vida eram brancos. Diversas pessoas negras que conheci, estudando e fazendo estágio em engenharia, sofriam com o racismo dentro de seus ambientes de trabalho. Elas eram menos valorizadas por conta da cor de sua pele, o que não reflete em nada na sua capacidade de trabalho e dedicação”, aponta Levi.

Pular para o conteúdo