Soberania em Debate: A urgente aposta nos que pensam a cidade para todos e todas

Entrevistada do primeiro Soberania em Debate de agosto, a professora Raquel Rolnik aponta os mecanismos de reprodução de desigualdades nas cidades e destaca a importância de votar em vereadores que pensam a cidade fora deste sistema já cristalizado na gestão dos municípios brasileiros

“Aquilo que a gente poderia definir como elemento central da cidade, a concentração de oportunidades de desenvolvimento humano e econômico no mesmo local, a gente não alcança. Mais de 5.500 municípios elegerão prefeitos e vereadores em outubro. Mesmo considerando as grandes diferenças entre essas cidades e regiões, a característica comum em todo o nosso país é que nossas gestões municipais são marcadas por uma precariedade absoluta. É triste, mas é um desafio gigante que a gente tem pela frente”. 

A primeira fala da urbanista e professora da Faculdade de Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), Raquel Rolnik, deu o tom da sua entrevista ao Soberania em Debate de 1 de agosto. Raquel aponta que, embora seja natural inferir que as profundas desigualdades que marcam o cotidiano das cidades sejam nada mais que um reflexo das injustiças perpetuadas no país, este é um entendimento parcial do problema. Para ela, as próprias cidades produzem e fazem a manutenção dessas desigualdades.

“As cidades fazem com que as diferenças que já existem na distribuição de renda e patrimônio se aprofundem. Elas fazem com que quem tem mais tenha ainda mais e bloqueia as oportunidades para que quem tem menos possa prosperar, ascender. Ela concentra oportunidades nas mãos de quem já tem e impede o acesso dos demais”, destaca a professora.

Esse processo, ela ressalta, pode ser facilmente constatado ao olhar para os espaços onde estão concentrados não apenas a maior parte dos empregos melhor remunerados, mas também os equipamentos culturais, oportunidades de circulação mais confortáveis. Essas áreas da cidade são destinadas, tanto pela legislação urbanística, pelo zoneamento, quanto pela forma pela qual a cidade é produzida e gerida, para permanecer nas mãos de quem tem mais renda. 

Entre os caminhos apontados ao longo da entrevista para combater a realidade desigual das cidades, que em maior ou menor força, atinge a todos os munícipes, Raquel destaca a urgência do voto consciente para vereador. 

“Para os que buscam a reeleição, é preciso ver como ele votou antes, o que ele trouxe para a cidade concretamente. É importante, também, conhecer as novas forças e vozes que estão surgindo, com a capacidade de questionamento real deste modelo, o ‘modo centrão de governar’. Eles estão aí. Jovens, mulheres negras, LGBTQIA+, lideranças das favelas com muita capacidade de realizar, de fazer. Precisamos apoiar essas candidaturas para que elas sejam, a partir de suas experiências, as novas lideranças do nosso país no futuro”, destaca Rolnik.


Rodrigo Mariano/Senge RJ | Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pular para o conteúdo