Na manhã desta quarta-feira (22/10), a diretoria da Eletrobras privatizada oficializou a alteração do nome para AXIA. Segundo o comunicado da companhia, a mudança “representa a evolução de uma companhia que vem se reposicionando e se transformando”. Os trabalhadores e trabalhadoras da empresa, quem vivem a Eletrobras no cotidiano, souberam da “novidade” com todos os demais, pela imprensa.
Concordamos aqui: a empresa, de fato, vem se reposicionando e se transformando. Se antes seu objetivo era a melhor gestão de um sistema elétrico unificado, único no mundo e responsável por iluminar o país de norte a sul, hoje, sua meta principal é o aumento da distribuição de lucros a rentistas. Se no passado, os trabalhadores e trabalhadoras eram parceiros no avanço de um serviço de qualidade para cidadãos brasileiros, acionistas majoritários da empresa, hoje, são tratados como um obstáculo a ser vencido para a total entrega da empresa a acionistas minoritários. Sabemos bem o que significa a mudança do nome: é um apagamento histórico. E ele não foi gestado do dia para a noite.
Não é coincidência que, há 9 meses, Governo e Eletrobras tenham fechado um acordo de conciliação que representou mais um passo no processo de entrega da empresa ao capital privado. Em uma solução atípica para ações de inconstitucionalidade, foi acordado que seria negado à União o poder de voto na assembleia de acionistas, relativo aos seus 43% de ações, em troca de cadeiras na diretoria. Vencido o desafio da ADIN, a diretoria decide que é hora de atacar os símbolos, a identidade, enquanto mói os trabalhadores com atos antissindicais e políticas e posturas que ignoram completamente as boas práticas e códigos éticos que a Eletrobras privatizada alega seguir.
Também não é a primeira vez que se inaugura este “museu de grandes novidades”. No início da década de 2000, para “modernizar” as estatais e facilitar a leitura dos nomes das empresas para melhor posicioná-las para as promessas da então sonhada globalização, as regras ortográficas foram torcidas em prol da entrada no mercado internacional. Naquele ano, Henri Reichstul, então presidente da Petrobras, tentou mudar o nome da empresa para PetroBrax.
O “X” aqui não é uma coincidência. Na PetroBrax ou na AXIA, ele representa um projeto. Tem objetivo. É pensado. Há décadas, a tentativa de mudança na Petrobras foi freada, mas não totalmente: o siglema – Petrobrás e Eletrobrás não são siglas; são palavras oxítonas terminadas em ‘a’ e, por isso, acentuadas – perdeu o acento para ficar mais palatável para o inglês. Eletrobrás e Radiobrás seguiram o exemplo. O resultado dessas e outras“modernizações”, conhecemos: o lento sangramento, ao longo de diferentes governos, do controle do povo sobre aquilo que ele pagou para construir e o enriquecimento de uma minúscula elite de investidores.
Mudar o nome de uma empresa – e, consequentemente, sua representação visual, sua própria identidade – é uma ferramenta de marketing usada sempre que se deseja descolar a corporação de sua história. Ao decidir por substituir o nome e a marca que simbolizam a história da companhia e que costuram sua identidade corporativa há mais de seis décadas, a direção da Eletrobras privatizada reforça o que já foi chamado de “tática de derrubar muro velho”, referindo-se aos trabalhadores da empresa anteriores à privatização.
Mas quem construiu a Eletrobras com a força do próprio trabalho não esquece fácil. A diretoria pode mudar nome, marca, o que for — o fato é que 43% das ações da empresa ainda pertencem ao povo brasileiro. E na Axia, seguirão firmes os trabalhadores da Eletrobras, lutando pelo que ajudaram a erguer.