Foto: Simon Elliott/Pixabay (detalhe)
Os quatro desabamentos – o último deles durante a tempestade deste mês – de partes da ciclovia Tim Maia, na avenida Niemeyer, no Rio, a queda de uma ponte da Alça Viária após colisão de uma balsa,no Pará, também em abril, ou o desmoronamento de um pedaço de viaduto na Marginal Pinheiros, em São Paulo, em novembro do ano passado, entre outros desastres similares, alertam para o mau estado de conservação de pontes e viadutos do país. “Devido à falta de recursos, o que se observa ano a ano são acidentes; o problema está aí para todo mundo ver”, diz o engenheiro civil Carlos Henrique Paiva Siqueira, diretor da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas e consultor há 23 anos das atividades de manutenção da Ponte Rio-Niterói, em cuja construção trabalhou como responsável técnico.
“Há 50 anos fizemos uma ponte como a Rio-Niterói, e agora não se sabe fazer uma ciclovia”, criticou o engenheiro, professor no curso “Vistoria de pontes e viadutos de concreto”, que o Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ) oferece nos dias 20 a 23 de maio, de 18h30 às 21h, com inscrições abertas até o dia 14 de maio.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) e a Fundação Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER/RJ) “são quase como caixas-pretas”, diz Siqueira. Na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o quadro também é precário: dos 1.705 cargos disponíveis, cerca de 800 estão vagos, conforme informou o seu diretor-geral, Mário Rodrigues Junior, em audiencia pública no Senado, no início de abril.
Nesse sentido, Siqueira observa que, nos desastres recorrentes na área, também há grande impunidade para os responsáveis. “Veja a ciclovia: quem projetou, quem construiu, quem fiscalizou, fez o controle de qualidade, gerenciou… é o mesmo. O responsável pela obra é fiscal de si próprio. Não funciona.” Ele lembra que, depois da queda de alguns prédios, a Prefeitura do Rio aprovou a autovistoria nas edificações, mas isso ainda não existe para túneis, viadutos, passarelas e pontes.
Nos EUA, de acordo com o engenheiro, foram investidos mais de UR$ 20 bilhões, nos últimos cinco anos, na manutenção de pontes. “Existe uma regra internacional, segundo a qual deve-se gastar, anualmente, 2% do valor atualizado da obra em vistoria e manutenção”, explica. Mas no Brasil não se segue um padrão.
Outro problema, destaca o engenheiro, é a falta de conteúdos relacionados às vistorias nos cursos universitários de Engenharia. “De modo geral, não se dá essa matéria nas universidade nem em nível de mestrado nem de doutorado”, lamenta. De forma ainda inicial, as exceções, diz, são a Universidade Estadual de Londrina, onde ele leciona a cadeira de vistoria e manutenção de pontes e tecnologia do concreto protendido, criada por sua insistência, e o Instituto de Educação Tecnológica De Luca Daher, com campus em Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte.
Os acidentes provocam perdas humanas e materiais, e também comprometem a imagem pública dos engenheiros. A atuação na área de vistoria, por isso, na opinião de Siqueira, vai além de uma questão de mercado, tratando-se fundamentalmente de uma preocupação ética. “Eu, particularmente, não estou preocupado em ficar rico, mas em defender a Engenharia Civil, e estamos cada vez mais afastados disso.”
Diretrizes do curso
O curso “Vistoria de pontes e viadutos de concreto” do Senge-RJ quer contribuir para suprir essa carência. Tem por base as indicações da NBR 9452, as diretrizes do National Highway Institute, do Federal Highway Administration, dos Estados Unidos, e também as premissas de especificação técnica da Dersa – Desenvolvimento Rodoviário S/A, empresa do estado de São Paulo.
Dirigido a engenheiros, arquitetos, graduandos de Engenharia e técnicos, o curso tem o objetivo de proporcionar aos profissionais da área conhecimentos gerais e específicos, teóricos e práticos sobre inspeções das estruturas de concreto, notadamente aquelas atinentes às obras de arte especiais. Com dez horas de aulas, custa R$ 200,00 para sócios do Senge-RJ (aspirante e profissional); R$ 400,00 para profissionais regularizados no Crea-RJ; e R$ 800,00 para demais profissionais, com possibilidade de parcelamento do valor em até dez vezes no cartão de crédito, ou pagamento à vista por boleto bancário. As aulas acontecem na sede do sindicato: av. Rio Branco, 277/8º andar, estação do metrô da Cinelândia.