A Eletrobras completou 62 anos em meio à greve. A paralisação das operações não essenciais da empresa, que acontece desde a última segunda-feira (10), segue firme em todo o país. Sem data para terminar, o movimento grevista vem sendo reavaliado em assembleias nas bases, e a postura insubmissa ao assédio e ao desprezo demonstrado pela diretoria da empresa nas rodadas de negociação segue sustentada pela categoria: pública ou privada, a empresa vai escutar seus trabalhadores.
Com uma adesão de 80% de trabalhadores, além da base Rio de Eletrobras e Furnas, o movimento se mantém no Sindenorte/SC, Sintresc, Stieel, Steem Maringá, Sede da CGT Eletrosul, Sinergia/MS, Sinergia/SC Florianópolis; Pelo Sindinorte, estão em greve os trabalhadores e trabalhadoras do Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins.
Recuo e abordagens antissindicais
Embora tenha se recusado a seguir negociando e dispensado a mediação do Tribunal Superior do Trabalho, a Eletrobras vem fazendo o pouco que pode para pressionar contra o estado de greve. Confrontada com a realidade de que toda a força da empresa está nos seus funcionários – aqueles mesmos de quem querem reduzir salários e cortar benefícios – a empresa vem tentando resistir com táticas antissindicais.
Além de um recuo representado pela decisão de enviar os trabalhadores para o teletrabalho, uma forma pouco eficiente de tentar dominar a narrativa sobre os corredores esvaziados pela greve, a empresa vem entrando em contato com os funcionários por meio de gerentes que fazem perguntas sobre o movimento grevista. A prática, considerada antissindical, fez nascer um banco de registros, material que poderá ser usado em ações judiciais contra aqueles que se deixarem instrumentalizar em atos ilegais de constrangimento aos grevistas.
Pelo boletim Interfurnas, os trabalhadores e trabalhadoras foram orientados a aguardar o contato do Comando de Greve para qualquer liberação para a realização de serviços emergenciais. Só então o contato direto com gerentes deverá acontecer: proteger os trabalhadores de qualquer pressão ilegal é trabalho dos sindicatos e ninguém está sozinho nessa luta.
Caminho até a greve: entendendo o histórico
No final de 2023, uma direção errática e adepta do assédio como cultura corporativa entre gestores davam o tom de como seriam as negociações no ano seguinte. Atos denunciavam ilegalidades em uma gestão dominada pela ideologia neoliberal. Em meio a decisões como a indicação de um advogado para a vice-presidência de Engenharia da empresa e a participação nula no maior leilão de transmissão do país, a Eletrobras privatizada lutava pelo desmonte histórico da ex-estatal. Em reunião relâmpago, em janeiro, a Eletrobras aprovou a incorporação de Furnas e atropelou a comissão paritária de saúde, criada em Acordo Coletivo de Trabalho, dando início a um processo absolutamente unilateral de mudanças nos planos de previdência e saúde de funcionários ativos, aposentados e seus dependentes.
Enquanto uma vice-presidente desdenhava publicamente das cotas e um diretor era identificado na reunião em que o ex-presidente Bolsonaro planejava um golpe de Estado, as negociações para o ACT 2024/2026 tiveram início.
As duas primeiras rodadas de negociações entre lideranças sindicais do Coletivo Nacional dos Eletricitários (CNE) e a diretoria da empresa, no início de abril, não avançaram na construção de um consenso. A redução de salários e congelamento de benefícios históricos estavam entre os principais objetivos da empresa na negociação desde a primeira rodada. E evitar exatamente isso era o principal objetivo dos sindicatos.
Na terceira rodada de negociações, no final de abril, já estava claro que a Eletrobras privatizada não iria recuar: apesar de um corte de 33% na folha de pagamento – exceto para a diretoria, que teve aumento de 37% – e o registro de um lucro líquido de 4,4 bilhões em 2023, seus representantes, quando não desapareciam no meio das reuniões, seguiam insistindo na precarização.
A quarta rodada de negociações, no início de maio, também não apresentou avanços. Os sindicatos buscavam unificar os ACTs específicos das cinco empresas do sistema Eletrobras, bem como endereçar os inúmeros problemas relacionados à saúde dos trabalhadores. A Eletrobras, por sua vez, seguia buscando espaço no ACT para e redução de gastos com pessoal. Sem qualquer satisfação, o diretor de Saúde e Segurança da empresa abandonou a reunião no meio.
A quinta rodada e última rodada,em 21/05 girou, mais uma vez, em torno da “nova arquitetura salarial”, nome dado pela empresa a uma cesta de maldades como demissões, reduções salariais, negociações individuais do trabalhador com a empresa e eliminação de benefícios conquistados há mais de uma década. Essas e outras medidas do pacote anti-trabalhista da Eletrobras para o ACT 2024/2026 estavam na proposta (finalmente) enviada aos funcionários. O documento foi ecaminhado como “proposta final”, indicando que por parte da Eletrobras, a mesa de negociações estava concluída e fechada.
Com o diálogo interrompido, os sindicatos decidiram buscar a mediação do Tribunal Superior do Trabalho. Em assembleia geral conjunta histórica que contou com a participação de cerca de 460 pessoas, 94% dos trabalhadores votaram pela rejeição da proposta da empresa, pela mediação do TST e, em caso de o impasse se manter, pelo indicativo de greve. O CNE esperava que a entrada do TST nas negociações pudesse ajudar as partes a encontrarem um consenso, mas a Eletrobras recusou a mediação, levando à deflagração do estado de greve.
ATUALIZAÇÃO (12/06 às 16h): Na tarde de hoje (12) o CNE informou sindicatos e trabalhadores que o TST convocou a empresa e as lideranças sindicais para audiência de mediação para amanhã (13/06), às 13h. Saiba mais clicando aqui.
Rodrigo Mariano/Senge RJ com informações do Interfurnas e AEEL | Foto: Divulgação